Para além do remédio
 
 
Organizações de prevenção e combate à AIDS destacam outras frentes de combate à doença
 
     
 
Danielle Villela
Da equipe de reportagem
 
     
 
 
Danielle Villela
 
 
 
 
Sede do Gapa, instituição de prevenção à AIDS de Salvador
 
 
     
 

“Todos os pacientes inscritos já recebem a medicação de graça, mas qualquer medida que possa trazer melhoras ao atendimento é muito bem-vinda”, comenta Anamaria Rizzato, coordenadora de recursos humanos do Centro de Referência Estadual de AIDS (Creaids), a propósito de medida da Presidência da República para o setor. Em 4 de maio, o presidente Lula assinou um decreto concedendo licenciamento compulsório (quebra de patente) ao medicamento Efavirenz, droga utilizada no tratamento da AIDS. Efetivamente, isso significa que o governo brasileiro economizará cerca de 30 milhões de reais por ano, já que poderá comprar o comprimido a 49 centavos de dólar na Índia, ou até mesmo produzi-lo no Brasil, deixando de pagar os 1e 59 centavos de dólar por comprimido ao laboratório alemão Merck. A medida não irá interferir significativamente na rotina de quem recebe medicamentos gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

O Creaids, localizado no bairro do Garcia, surgiu há 11 anos com o objetivo de propiciar ao portador do HIV/AIDS um tratamento “de excelência”. Às 8h o atendimento já acontece normalmente e, em média, 300 pessoas são acompanhadas todos os dias, incluindo consultas médicas e psicológicas, palestras e distribuição de medicamentos. Apesar de toda essa estrutura, segundo dados do Ministério da Saúde, cerca de 70% dos portadores do HIV/AIDS apresentam problemas na adesão ao tratamento. Carolina Rezende, trainee de psicologia do Grupo de Apoio e Prevenção à AIDS (Gapa), afirma que muitos pacientes abandonam a terapêutica por conta própria devido aos efeitos colaterais. “Têm casos de pessoas que tomam os medicamentos dia sim, dia não, para evitar os enjôos, dores de cabeça e outros sintomas”, conta.

Os remédios são importantes, pois diminuem a quantidade de vírus nas células, aumentando a expectativa de vida do paciente. Para Rezende, a medida de Lula reforça a política pública de tratamento gratuito e dá mais uma garantia de saúde para a população. Desde 1996 a Lei Sarney garante acesso universal ao tratamento anti-AIDS. Apesar disso, para Rosario Pires, 50, portadora do HIV há 8 anos, não adianta o governo dar a medicação e o atendimento médico se a pessoa não tem condições de chegar ao hospital. Ela explica que a maioria das empresas demite portadores do HIV/AIDS, mesmo havendo leis que proíbam essa prática. “Como a pessoa vai buscar o medicamento se não tem dinheiro pro transporte? Conheço gente que anda horrores para chegar ao Hospital das Clínicas porque não tem dinheiro para pegar um ônibus”, informa.

Rosario Pires é uruguaia e chegou ao Brasil há 22 anos. Começou o tratamento anti-retroviral assim que descobriu que era portadora do vírus e melhorou rapidamente. Não sofre com enjôos, nem dores de cabeça, mas já teve três infartos. Hoje, ela trabalha como voluntária no Gapa e faz parte da Rede Nacional de Pessoas com HIV/AIDS na Bahia (RNP+BA). Em 2007, participantes da RNP+BA foram à Câmara dos Vereadores propor uma lei que garantisse passe livre nos ônibus para os portadores do HIV/AIDS. “Seria só para os mais necessitados, porque sabemos que existe muita gente oportunista”, afirma Pires.

Ela defende que a medida seria um investimento do governo, pois os gastos com internações seriam menores. Pires explica que uma vez que o paciente deixa de tomar a medicação, ele está vulnerável a doenças oportunistas e certamente precisará ser internado. Apesar disso, quando o RNP+BA foi à Câmara dos Vereadores não havia “clima” entre os vereadores para acatar a proposta. Muitos dos presentes conversavam entre si ou falavam no celular. Pires conta que na ocasião os representantes do RPN+BA pediram atenção e silêncio enquanto liam o manifesto, mas nada adiantou. “Foi uma falta de respeito, mas nós não vamos desistir”.

 

 
     
 
 

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