Ônibus mortíferos
 
 
Em cinco meses, Salvador registra crescimento de acidentes e mortes provocados por coletivos
 
     
 
Mirela Gonçalves e Nina Santos
Da equipe de reportagem
 
     
 
 
reprodução
 
 
 
     
 
     
 

Os primeiros cinco meses de 2007 apresentam estatísticas nada agradáveis para usuários de ônibus na capital baiana, com expressivo aumento no número de acidentes no transporte urbano, de colisões com mortes a atropelamentos de pedestres. Segundo a Superintendência de Engenharia de Tráfego até o início de maio em Salvador foram registrados 11 mil acidentes envolvendo ônibus, com 11 mortes e cerca de 200 pessoas feridas. Essa situação trouxe um novo problema para as pessoas que utilizam o transporte público na cidade: o medo de ser a próxima vítima.

O acidente mais grave aconteceu dia 9 de abril, quando dois ônibus colidiram na Avenida Paralela, com saldo de 3 vítimas fatais e 17 feridos. Os laudos divulgados pela Polícia Técnica não apontaram de quem seria a culpa pelo ocorrido. Diante desse e de outros casos que se tornaram recorrentes, surgiu a especulação sobre as causas dos acidentes e os critérios de responsabilização dos culpados.

Motorista de ônibus, Hugo Santos admite que na maioria das vezes a falha é humana. “Somos o tempo todo pressionados pelas empresas para cumprir os horários, então o jeito é acelerar. Sem falar em todo o estresse que temos que passar no trânsito. Acho que as empresas deveriam nos sufocar menos”, afirma. A reportagem do Jornal da Facom procurou a gerência da Bahia Transportes Urbanos, envolvida em acidentes e uma das 18 empresas de ônibus que operam na cidade, mas não obteve resposta.

Um outro motorista que preferiu não se identificar aponta não apenas a velocidade, mas a falta de manutenção da frota como uma possível causa. “O estado de conservação dos veículos é o pior possível. Não tem como andar nessas condições. Têm verdadeiras latas velhas rodando aí fora”. Seu argumento é comprovado em casos como o acidente de 18 de abril, no qual um ônibus da empresa Barramar perdeu as rodas traseiras no meio da Avenida Centenário, por causa de um eixo quebrado. Dessa vez, não houve vítimas. A situação se agrava ainda mais quando essa falta de manutenção se soma à idade média dos ônibus de Salvador que, em março de 2007, era de 5,2 anos.

Os principais atingidos são, como sempre, os passageiros. Maria Almeida, que vai e volta do trabalho diariamente usando coletivos, não consegue deixar de lado o medo quando anda de ônibus. “Além do fantasma dos assaltos, agora tem o perigo de você não chegar viva em casa. Alguns motoristas correm muito, principalmente à noite. Venho rezando durante todo o caminho para que nada de mal aconteça”. Já Pedro Guerra, também usuário, não é tomado pelo temor e sim pela revolta diante da situação do transporte público. “É um abuso, um absurdo, mesmo com o aumento na tarifa pesando no nosso bolso não vejo retorno”.

Sai caro

É justamente esse fato de a passagem de ônibus aumentar sucessivamente e não haver melhorias nos transportes públicos que traz mais indignação à população. Anatália Pereira, que usa diariamente o sistema de transporte público, alerta para as conseqüências do gasto de 2 reais por passagem.. “Para os assalariados não dá. Você vê que pouca gente sai de casa”, lamenta. Valmira dos Santos complementa dizendo que “para quem quer passear, realmente sai caro”.

Alarmada pelas estatísticas, a direção da Superintendência de Transportes Públicos (STP) reuniu-se com as empresas de ônibus para discutir e evitar novos acidentes. O Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Salvador (SETPS) pediu a reavaliação da cartas horárias, documentos que determinam o percurso, o tempo e a quantidade de viagens para uma rota. Os motoristas pedem melhor sinalização, além de moderação no número de quebra-molas, considerado excessivo na cidade. E os passageiros pedem mais cuidado e respeito por suas vidas.

 
     
 
 

Coronelismo eletrônico
Políticos baianos continuam controlando rádios e TVs, apesar da Constituição proibir a prática