“Todo período histórico possui um conjunto de tecnologias que as sociedades dominantes e dentro delas, suas elites, utilizam como fonte especial de poder e de reprodução da riqueza”. (Sérgio A.da Silveira)
www.jornaldafacom.ufba.br é o site do JF, disponibilizado na rede mundial de computadores desde a quarta edição. Visite-o. A home page é limpa - sem os penduricalhos comerciais típicos de sites da imprensa-empresa - e de acessibilidade ágil, precisa e eficiente. Criar um link para uma página com o histórico do JF, das origens até a versão digital, seria bastante esclarecedor. E se não for possível adicionar ao site a versão digital dos quatro primeiros números, ao menos disponibilizar uma galeria com as fotos publicadas e, quem sabe, talvez, inserir uma ou duas matérias de cada uma das edições não digitais, pois serviria de parâmetro para aferir o rápido amadurecimento do JF. Apesar de ser elaborado por uma turma nova a cada semestre, há uma sedimentação de experiências de qualidade que vem engendrando um jornal experimental com personalidade, original e criativo, como atesta a coluna Poucas & Boas, destinada aos leitores
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E agora, então, que caiu na rede, é peixe. Peixe de águas internacionais, disponível para quem quiser pescar e saborear. A rapidez do acesso, a ilimitada disseminação das informações, as possibilidades de intercâmbio, de retorno, de contribuições, enfim, em tudo a inserção do JF no universo informacional é extraordinária e instigante. Enquanto a versão impressa tem seu alcance limitado pela tiragem de 7.500 mil exemplares, a versão digital torna-se potencialmente mundial.
A linguagem informacional é fantástica para quem tem acesso. Quem não tem não navega, não pesca e nem se alimenta dessa linguagem. O paradoxo é esse: o acesso ao acesso. Enquanto um estudante de jornalismo da Universidade de Coimbra pode estar visitando agora o site www.jornaldafacom.ufba.br, aqui em frente à UFBA, ali na comunidade do Calabar, há centenas, talvez milhares de jovens que nunca moveram um mouse. Que se quer sabem o que é software, home page, menu, site, e-mail, web, link...
Apenas 8% dos brasileiros possuem computador em casa. São mais de 120 milhões os excluídos digitais - termo cunhado para designar os que não têm nem computador, nem domínio dessa linguagem e nem acesso a Internet. Um apartheid digital que concentra saber e poder em redutos privilegiados, expondo as vísceras da pós-modernidade: sequer superamos o analfabetismo - são 27,8% de analfabetos funcionais segundo o IBGE - e já estamos somando a essa infeliz estatística os analfabetos digitais. E o analfabetismo digital amplia terrivelmente o abismo social, degenerando irreversivelmente as possibilidades de superação do subdesenvolvimento e da miséria. É preciso combatê-lo, agora.
A universidade pública, por exemplo, é um espaço privilegiado para propor projetos e promover ações. E o JF, como um jornal independente, pode lançar seu olhar crítico sobre a UFBA e investigar e divulgar o que vem sendo realizado. Inferir sobre compromissos e responsabilidades que os diversos Departamentos podem assumir. Criar uma coluna para debater as polêmicas em torno do acesso a rede mundial de computadores, a exclusão digital e o movimento software livre. Enfim, entrar nessa disputa política. Até porque esse bem maior cultivado pelos jornalistas, a liberdade de expressão, se inicia sim com o direito pleno de dizer, de informar, mas só se completa cabalmente com o direito concreto de ouvir, de ser informado.
Renato Santos, professor de História em cursinhos
pré-vestibulares, é autor de
História na Contemporaneidade (Edufba, 2005).