Região freqüentada por banhistas que procuram os melhores locais para banho de mar e faixas de areia mais extensas, o pedaço de orla que vai de Patamares a Itapuã, em Salvador, é notório por abrigar pontos de prostituição, nos quais a oferta de garotas e rapazes é tão grande quanto a demanda por eles. Os condomínios de luxo nos arredores possuem aquele ar praieiro que tanto encanta os turistas que preferem manter distância de bairros modernos, como Pituba ou Ondina.
Casablanca Village, em Piatã, é um grande conjunto de cerca de duzentas residências que simulam chalés, com uma grande piscina oval e coqueirais de aparente tranqüilidade. Há 10 anos se podia comprar uma unidade simples de dois quartos por cerca de 40 mil reais. Hoje o preço é, no mínimo, o dobro. A valorização e o crescente interesse imobiliário, somados ao silêncio dos moradores, acabou por transformar o local em um velado reduto de sexo e drogas. Segundo Lucas Tavares, que mora ali, os corretores vendem e alugam unidades sem maiores exigências ou preocupações com os moradores, na maioria, pacatas famílias e muitos idosos. Procurados pela reportagem, poucos moradores quiseram falar abertamente sobre o assunto.
Lucas Tavares, 20 anos, desde criança mora ali com a família. Ele compartilha com os outros habitantes uma certa nostalgia dos tempos nos quais calmaria não era só uma fachada. “Cresci no Casablanca, jogando bola, nadando na piscina. Hoje já não dá mais. No inverno a piscina ainda é linda, limpa. No verão, e um pouco depois, vira um clube. Principalmente agora com a Cantina do Zezé. Há prostitutas que os moradores conhecem da noite na orla, seminuas. Muitos moradores, amigos meus, inclusive, já se mudaram por causa disso”.
Na opinião dele, os condôminos sabem, mas ninguém se pronuncia a respeito. “Ninguém quer pôr a corda no pescoço”, sentencia Tavares. “Há muitos proprietários que não moram no condomínio e dos que moram, somente 30% comparecem às reuniões administrativas e assembléias de condomínio”. Muitos dão o aval para que corretores anunciem seus apartamentos.
“Corretor não está preocupado com o bem-estar dos moradores, eles querem euros”, afirma Fernando Sabino, 36, morador há 10 anos. Há um site na internet, inclusive, que anuncia o aluguel de imóveis no condomínio. Curiosamente, a página bilíngüe só tem tradução para o italiano. “A maioria é mesmo de italianos, mas não só”, diz Sabino. Os moradores criam que o site não passava de boato. Entretanto, existe de fato. É o www.paradiseinbrazil.com
Estrangeiros “não pechincham”, informa prostituta
Na noite de 24 de dezembro de 2006 um italiano saiu correndo pela portaria do Casablanca, gritando, e segundo os moradores, altamente drogado. Entrou pela portaria do condomínio vizinho, Cores de Piatã, onde caiu junto à mesa, e morreu. O caso virou notícia mas também anedota entre os moradores. Foi uma das raras visitas da polícia ao local. “Isso é uma moradia saudável, normal para uma família?”, indigna Marcela Rebouças, 34 anos, moradora há quatro. “Já vi gringo bêbado, de pau duro, com garotas nuas na piscina. E as pessoas rindo. Não há respeito”, declarou Lucas Tavares.
Os moradores fazem coro ao se referir à síndica como apática. “Ela encara o problema como encara o uso de drogas aqui, sempre existiu. Faz vista-grossa. Há muito filho de pessoas influentes aqui”. Procurada pela reportagem do JF, a síndica não quis se pronunciar.
Não é preciso caminhar muito ao longo da orla de Piatã para encontrar garotas e garotos de programa. Solange, 22, batalha no ofício há dois anos. Ela conta que atende principalmente em condomínios e motéis, mas já trabalhou nas ruas. A grande maioria de clientes é de estrangeiros. “Eles vêm o ano inteiro. Pagam bem, não pechincham. Nosso point é o [restaurante] Casquinha de Siri. Eles pagam comida, bebida e, não raro, drogas”.
Solange diz que já trabalhou em Portugal e Espanha, por intermédio de um cliente italiano, que conheceu no Casquinha e a levou ao hotel. A grana que ganhou com trabalho duro foi suficiente para comprar o apartamentro no qual mora com o filho de cinco anos, na Pituba. Sem meias-palavras, diz gostar do que faz, entretanto lamenta que seja um caso isolado. “A maioria das meninas faz mesmo é para garantir o mínimo de grana para ajudar à família ou se manter sozinha. Tenho amigas que fazem para pagar a faculdade particular também. Uma delas inclusive está na Itália agora, mas morou três anos naquele condomínio ali, o Casablanca”. |