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Quando entrar setembro...

Com verbas em atraso, UFBA oferece primeiras turmas do projeto Universidade Aberta

 

Humberto Saldanha
Da equipe de reportagem

 
Humberto Saldanha
 
 

Ana Maria Rocha, 27, trabalha como professora numa escola municipal em Camaçari (a 40 km de Salvador). Sem nível superior, tenta há três anos ingressar numa licenciatura da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), única instituição pública existente na localidade. Ela reclama da pequena quantidade de vagas disponibilizadas pelo curso. Porém, este ano, Ana poderá ter uma chance maior de ingresso. O Ministério da Educação (MEC), com o objetivo de expandir e facilitar o acesso à educação superior pública no país, lançou o programa Universidade Aberta do Brasil (UAB). Esse sistema é formado por universidades públicas, que oferecerão 60 cursos de graduação à distância em 290 cidades-pólo de apoio presencial.

Na Bahia a UAB atingirá 19 municípios, que juntos oferecerão 2.250 vagas e 66 cursos. Porém, a única instituição baiana a participar do programa será a Universidade Federal da Bahia (UFBA), única participante da seleção do primeiro edital, lançado em 2005. “A maior vantagem da Universidade Aberta será a democratização do ensino superior, principalmente em municípios que não têm oferta de cursos”, explica a professora Milla Araújo, suplente do escritório da UAB na UFBA.

O principal público alvo da Universidade Aberta serão professores da educação básica, como Ana Maria, que exerce a docência sem diploma. Afinal, o Plano Nacional de Educação (PNE) determina que, até 2012, todos os professores devem ter formação adequada em sua área. Mas isso não impede outras pessoas, formadas no ensino médio, a disputarem uma vaga no programa. Francisco Rocha, 29, marido de Ana Maria, dono de um pequeno restaurante, vê na UAB a possibilidade de entrar na universidade. “Eu sempre quis ter um diploma, mas passar na Uneb é difícil e não tenho condições de pagar uma particular”, revela.

Inicialmente, a UFBA oferecerá somente o curso de licenciatura em matemática, em apenas dez municípios baianos, entre eles Camaçari e Simões Filho, aliás, os únicos pólos vistoriados pela comissão do professor Robert Verhine, coordenador da UAB na UFBA. Segundo Milla Araújo, as outras localidades não foram visitadas, ainda, por falta de verba.

Para o professor Marco Antônio, coordenador do curso de matemática oferecido, o programa UAB possibilita que indivíduos fora da universidade presencial tenham uma formação adequada. Segundo ele, a qualidade do ensino à distância será bastante próxima da oferecida presencialmente. Alerta, porém, que “o governo está muito lento na liberação dos recursos”. Até agora não se tem material didático pronto para o curso. Uma outra crítica feita por Marco Antônio diz respeito à quantidade de vagas, serão 50 por pólo. Ele acha uma quantidade muito grande de alunos, “deveria começar com 30”, diz.

MEC deveria “fiscalizar    melhor”, dizem críticos

Terezinha Fróes, professora da Faculdade de Educação da UFBA, acredita que um dos principais obstáculos da UAB, será quebrar o preconceito acerca do ensino à distância. “Os grupos privados fazem isso como uma forma de captar recursos e de criar impacto numa determinada região sem ensino superior” critica. Quem compartilha a mesma idéia de Terezinha é Amélia Tereza, vice-reitora da Uneb. “É muito complicado a mercantilização do ensino à distância. Houve uma abertura desenfreada no mercado, que tem prejudicado a qualidade do ensino. O MEC deveria fiscalizar melhor”.

Seguindo os mesmos passos da UFBA, no dia 20 de março foi realizado no Instituto Anísio Teixeira (IAT), a assinatura de um consórcio entre as universidades públicas da Bahia (Uneb, UEFS, UESC, UESB e UFRB). A intenção desse ato é inscrever essas instituições no segundo edital da UAB, com encerramento previsto para 24 de abril. “O que desejamos é que as universidades participem do edital e ganhem”, diz Emanuel Rosário, coordenador de Ensino à Distância do IAT. Para ele o programa do MEC terá um papel importante na expansão do ensino superior.

Para Joviniano Neto, presidente da Associação de Professores Universitários da Bahia (APUB) a qualidade do ensino da UAB dependerá muito do modo como o curso será dirigido. Ele reconhece que os professores que estão à frente do projeto da UFBA são pessoas competentes na área de ensino e gerenciamento, “o que nos permite esperar um resultado de qualidade, dentro dos limites do ensino à distância” fala, mas “para nós (da APUB), o curso presencial continua sendo o que permite o alcance de melhor qualidade”, diz.

Os docentes que irão trabalhar na Universidade Aberta receberão uma bolsa de 1 mil e 200 reais. “A bolsa fornecida aos que participam da UAB pode funcionar como mais um complemento salarial”, critica. “Ao que me consta, o professor não é liberado de sua carga horária, devendo trabalhar no espaço permitido para consultoria”, acrescenta. Joviniano Neto acredita que os professores baianos não têm cultura em fornecer ensino à distância, por isso deveriam ser capacitados.

 
 
 
   
 
 
   
   
   
 
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Universidade Federal da Bahia. Jornal da Facom. 2007.