Entre um aumento e outro na tarifa, intensifica-se a insatisfação da população usuária do sistema de transportes coletivos de Salvador. Para Stela Santos, moradora do bairro Mussurunga, não houve melhorias no sistema, como se anunciou antes da tarifa de ônibus subir para 2 reais no início de 2007. As frotas foram reduzidas, os ônibus estão superlotados e a passagem está cara. Segundo Stela, houve uma redução das linhas que passam no seu bairro. “Só está passando Lapa e Campo Grande e, pior, de 40 em 40 minutos”, afirma.
No final do de 2006, a Prefeitura e o Sindicato das Empresas de Transportes de Passageiros de Salvador (SETPS) iniciaram uma ampla campanha publicitária, com outdoors e cartilhas espalhadas por toda cidade, sobre a necessidade do aumento da passagem para garantir melhorias no transporte público. A iniciativa visava preparar a população para mais um aumento, já que o último reajuste da tarifa de ônibus em Salvador ocorreu em setembro de 2005.
No início de 2007, o sindicato patronal anunciou o aumento da passagem de R$ 1,70 para 2 reais, um reajuste de quase 18%. Para o gerente de Projetos de Transportes da Superintendência de Transportes Públicos (STP), João Carlos Félix, o aumento da passagem foi necessário para possibilitar mudanças no sistema de transporte em benefício da população. Segundo ele, “estamos trabalhando para melhorar ainda mais o sistema de transporte público de Salvador”.
Os usuários na estação Mussurunga reclamam que precisam chegar no horário certo nos seus trabalhos e escolas sob pena de redução no pagamento, compensação em horário fora de expediente e até mesmo corte de ponto no dia. “Ficamos mais de quarenta minutos esperando um ônibus para poder trabalhar e, quando ele chega, é um empurra-empurra para conseguir entrar. Quando entramos, a lotação é absurda, ficamos parecendo sardinhas enlatadas”, comenta Marcela Rodrigues, funcionária de uma loja de calçados.
Sistema restrito
Questionada sobre a redução das frotas e a superlotação dos ônibus, a chefe do Setor de Avaliação da STP, Ana Bezerra, afirmou que realmente está havendo uma redução das frotas. Segundo ela, a criação de estações de transbordo, como a Estação Mussurunga, que integra diversos bairros como Alto do Coqueirinho, Km 17, Bairro da Paz, Bairro São Cristóvão, e com o “modelo de integração aberta”, os transtornos vão acabar, “pois vamos aumentar a oferta sem precisar aumentar a frota”.
O Sistema Integrado Aberto, ainda é restrito a estudantes. Ana Bezerra informa que ainda em 2007 será estendido a toda a população, permitindo a baldeação, com o desconto de 50% da passagem anterior, para ônibus de áreas diferentes (A, B, C, D) num tempo de uma hora. Essa cautela na aplicação do sistema, segundo Bezerra, é baseada na experiência de projeto similar em São Paulo, onde teria havido problemas de receita porque o sistema foi aberto de uma só vez para toda a população e sem tempo limite para a baldeação.
Para o estudante de mecatrônica do SENAI e morador do bairro IAPI, Marcel Lisboa, não só as frotas do seu bairro foram reduzidas como também a das estações de transbordo. “No horário de pico, chega a formar três filas. Assim, o sistema integrado só é bom por causa do transporte complementar, mas não garante mais ônibus e nem horários. Na verdade, nem é tão bom assim porque o tempo limite para a baldeação é muito pequeno”.
A grande promessa de melhoria do sistema de transporte público anunciada pelas campanhas publicitárias do SETPS e da Prefeitura significará mais 500 carros até o final de 2007 e mais 400 carros até 2008. No entanto, não haverá aumento de frota, como esperava a população, mas sim uma renovação. Ana Bezerra, da STP, diz que a Prefeitura irá garantir maior conforto para a população com os carros novos. Para a população, o não aumento de frotas significa ônibus cada vez mais lotados, tarifas cada vez mais caras e muita espera, como declarou Stela Santos.
Estação Mussurunga “é um inferno”
Rodoviários fizeram uma paralisação surpresa na Estação Mussurunga, na manhã de 23 de março, quando a reportagem do JF ali esteve. Durante quase duas horas, os ônibus que entravam na Estação ficavam estacionados na garagem, enquanto representantes do sindicato dos rodoviários, através de um carro de som, anunciavam sua pauta de reivindicação. “Só paralisando é que podemos conseguir nossos direitos”, declarava Milton Teixeira, diretor do Sindicato. Segundo ele, a categoria está reivindicando um melhor tratamento da fiscalização da STP com os cobradores e motoristas.
“Isso aqui é um quartel!”, desabafava um cobrador. Para ele, além da intensa carga de horário de sete horas e 20 minutos, o tempo permitido para a refeição é apenas de 15 a 20 minutos. “Na Estação Mussurunga, nem o tempo da refeição, eles estão dando. A STP não considera a condição do rodoviário que chega à estação. Se precisa ir ao banheiro? Se tomou café? Suas condições psicológicas. Exigem apenas o cumprimento do horário”. Segundo o sindicato, “caso o horário não seja cumprido, a fiscalização multa a empresa que tira do bolso do rodoviário”.
Para Cláudio Roberto, chefe de gabinete da STP, a superintendência foi “pega de surpresa”. “Não existe nenhuma reclamação recebida esse ano dos rodoviários sobre maus tratos. Estamos surpresos. Não fomos procurados em nenhum momento”. O presidente do Sindicato, Machado, afirma que a situação é “flagrante”. “Existem finais de linha que nem banheiro têm. Os rodoviários são obrigados, muitas vezes, a dar hora extra mesmo com compromisso marcado e o cansaço!”, declara Machado.
Para a estudante de fisioterapia da Jorge Amado, Priscila Oliveira, “a paralisação dificulta o dia, mas eles têm o direito de descansar. “Na verdade, deveriam aumentar a frota e o número de cobradores e motoristas para resolver o problema dos rodoviários e o da população.” Outros usuários se revoltam com a paralisação dos rodoviários porque precisam buscar seus filhos nas escolas e chegar aos seus locais de trabalho ou até mesmo voltar pra casa. Mas, para o Sindicato, “população e rodoviários são parceiros”.