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Wagner ainda pisa em ovos

100 primeiros dias do governo petista sem nenhuma ação de impacto, exceto a “re-inauguração” da Cesta.

 

Guilherme Lopes
Da equipe de reportagem

 
Reprodução
O governador Jaques Wagner e seu líder, o presidente Lula da Silva.
 

Jaques Wagner (PT), novo governador da Bahia, completou cem dias como inquilino do Palácio de Ondina no dia 10 de abril. Ao avaliar as ações realizadas pelo governo até o momento, oposição e governo divergem. “Há uma certa apatia do governo petista nesses primeiros meses de mandato”, declara o deputado Gildásio Penedo Filho (Democratas, antigo PFL), líder da oposição na Assembléia Legislativa. O deputado estadual Yulo Oiticica, líder do PT na Assembléia, rebate afirmando que dívidas herdadas pelo governo Wagner dificultaram uma maior mobilização para dar visibilidade ao seu trabalho, conforme disse por intermédio de sua assessoria de imprensa.

O ex-governador Paulo Souto (DEM) declarou à reportagem, também por meio de sua assessoria de imprensa, que “não quer fazer declarações conceituais sobre o novo governo”. Jaques Wagner, por sua vez, foi enxuto ao responder aos ataques da oposição. Para ele, que falou com o repórter durante a cerimônia de re-inauguração da Cesta do Povo [posto de venda de produtos domésticos a baixo preço] da Avenida Ogunjá, ocorrida em 2 de abril, fazer ataques é “o papel da oposição”.

Para o professor de ciências políticas da UFBA., Paulo Fábio Dantas Neto, “ainda é cedo para ver que rumo as coisas vão tomar no novo governo”. No entanto, acrescenta, “já há sinais de que a equipe de Wagner não chegou com uma política de ‘terra arrasada’, de querer reinventar a roda”. Ele cita, como exemplo, o fato de o atual governo estar respeitando a burocracia existente na Secretaria da Fazenda, “que talvez seja uma das mais bem preparadas do Estado”. O professor afirma, ainda, que não existem condições políticas para que “um processo de ruptura” aconteça com a elite de poder do Estado, pois “Wagner não derrotou um grupo moribundo”.

Distribuição de riqueza

Oiticica afirma ainda que o principal foco de atuação do novo governo deve ser a distribuição da riqueza. “É inaceitável que a Região Metropolitana seja responsável por 53% da riqueza produzida na Bahia”. O deputado defende que a Bahia não é um Estado “condenado à exclusão social” e, que os problemas existentes se devem à “incompetência com a gestão da coisa pública”. Já para Gildásio Filho qualquer governo, “independentemente da coloração partidária”, deve cuidar bem da área social, pois “embora houvesse um esforço dos diversos governos que precederam o de Jaques Wagner, há ainda uma carência no setor social”. O democrata acredita, ainda, que a presença desses problemas na Bahia se deva à “contingência populacional e territorialidade extensa” do Estado.

Sobre a dívida de R$ 300 milhões na Cesta do Povo deixada por Paulo Souto, Gildásio Filho argumenta que a empresa “é deficitária mesmo, mas era uma política social que o Governo da Bahia bancou” nas gestões anteriores. Para ele, a finalidade da Cesta, é a de ser “reguladora de preços” nas cidades do interior da Bahia “contra os abusos de comerciantes”. Já o deputado Oiticica tem outra visão: “Adquirir uma dívida não é função social”, pois assim faltam recursos para outras áreas. Ele acredita que o saldo negativo se deva à má gestão e, para isso, pediu a instalação de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) que investigue a origem da dívida.
Gildásio Filho afirma que Wagner encontrará uma “oposição respeitosa”. “A gente não pode colocar interesses partidários acima dos interesses da Bahia”, diz. Yulo Oiticica espera que a oposição tenha “atitudes responsáveis” e lamenta que “até então, o que vemos é uma trincheira de guerra”.

Governo anuncia investimentos. Só anuncia.

Nos seus primeiros cem dias, o governador Jaques Wagner anunciou uma série de investimentos para o Estado com dinheiro dos cofres baianos e federais. Também inaugurou duas fábricas “herdadas” da administração Souto em Camaçari que, juntas, devem gerar 850 empregos diretos e 3200 indiretos, segundo anunciou. Buscou, ainda, atrair investimentos estrangeiros para o Estado.
O governo anunciou R$ 10 milhões de investimentos para as universidades estaduais, R$ 8 milhões (provenientes do Fundescola) para a construção de 21 escolas e readequação de outras 134 no interior, além de R$ 1,1 bilhão, do Ministério de Infra-Estrutura, para obras infra-estruturais hídricas e de revitalização do rio São Francisco. Wagner apóia a polêmica transposição do rio, questionada por diversos setores, inclusive a Igreja. Wagner esteve em Portugal, em janeiro, à procura de novos investidores para o setor turístico. Poucos dias depois, empresários portugueses e espanhóis prometeram investir cerca de R$ 1,2 bilhão a partir de julho.
Dois fatos se destacaram também neste inicio de governo, fora da área dos investimentos. O primeiro foi o anúncio da não-renovação do contrato assinado por administrações anteriores com a Coopamed (Cooperativa de Assistência Médica da Bahia). A empresa fornecia profissionais da área de saúde para hospitais e postos médicos administrados pelo Estado. Para substituí-los, foi anunciada a realização de concurso público que deve substituir os 3 mil profissionais ligados à cooperativa. O outro assunto destacado é de caráter federal: trata-se da indicação, pelo presidente Lula (PT), do deputado federal baiano Geddel Vieira Lima (PMDB), outrora seu adversário político, para assumir o Ministério da Integração Nacional.

 
 

 

 

 

 

 

 
   
 
 
   
   
   
 
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Universidade Federal da Bahia. Jornal da Facom. 2007.