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Shopping-problema

Aeroclube atravessa pior “crise de identidade”, com desentendimentos entre lojistas e prostituição.

 

Beatriz Garcia e Rodrigo Lessa
Da equipe de reportagem

 
Vanessa Barbosa
Abandono.
 

Inadimplência, irregularidades, promessas de revitalização, atrasos, suicídios, assaltos, estupros, prostitutas e um punhado de ações judiciais. Estas são as dores de cabeça dos lojistas e freqüentadores – dos poucos que ainda restam – do shopping center Aeroclube Plaza Show, localizado na orla de Salvador. Nos tempos áureos do shopping, passavam por lá cerca de 25.000 pessoas por dia. Os lojistas estimam que atualmente esse número não passe dos 300. Há quatro anos, o shopping que antes era um dos pontos mais freqüentados pelos jovens de Salvador, enfrenta um processo de decadência.

A falta de segurança no local fez do Aeroclube palco de constantes assaltos nos estacionamentos e até mesmo de um caso de estupro a uma criança de 12 anos dentro do próprio shopping. A transformação do local em ponto de prostituição veio para agravar ainda mais a situação de abandono e quem sentiu no bolso foram os lojistas. Os lojistas se dizem obrigados a pagar um aluguel de 50 reais por metro quadrado (o Shopping Iguatemi cobra no máximo 35 reais), vivendo sempre na iminência de ter que fechar suas portas. Das 140 lojas que o Aeroclube pode abarcar, hoje só permanecem 70, e algumas, até retiram os letreiros da fachada como forma de evitar que sua marca seja associada a um shopping decadente.

A última loja a ser fechada, a sorveteria Fredíssimo, teve um prejuízo de 300 mil reais. Quanto mais lojas vão saindo, mais caro fica o aluguel para os que permanecem. As dívidas, direta e indiretamente, já levaram 3 lojistas à morte. “Uma moça entrou em depressão e faleceu, um rapaz deu um tiro na cabeça e outro sofreu um acidente de carro um tanto quanto estranho, pois estava passando por abalos psicológicos”, diz Rogério Horlle, proprietário da loja Couro e Cia e presidente da Alashow – Associação dos Lojistas do Aeroclube Plaza Show.

Horlle mantém-se no cargo de presidente da Alashow há mais de dois anos, embora o período de mandato regular é de um ano. Conforme estatuto social da associação, novas eleições para a diretoria deveriam ter sido convocadas. Rogério Horlle não convocou, e agora é acusado por vários outros lojistas de manter-se no cargo por interesses pessoais, uma vez que sua loja, como várias outras, possui dívidas. Cerca de 40 lojistas fizeram um abaixo-assinado descredenciando Horlle a falar em nome da Alashow, como afirma Marcel Bandeira, proprietário da Makai SurfWear. Tamanha divergência entre lojistas acontece por causa do anunciado projeto de revitalização do shopping, que está dividindo opiniões e interesses.

Ao contrário do que o nome revitalização sugere, o Aeroclube não voltará a ser o centro de lazer que era antes. A idéia é transformá-lo num shopping convencional, com lojas âncora e supermercados. O Consórcio Parques Urbanos, responsável desde o início pelo empreendimento, anunciou o término das obras para março de 2007, mas elas sequer começaram. “Eles são maquiavélicos”, opina Horlle, aparentemente a favor da revitalização. “Rogério é maluco”, revolta-se Marcel Bandeira, que não compreende como o lojista pode “se dizer a favor do projeto e ao mesmo tempo mover ação judicial para transferir a administração do shopping para a Alashow, e ainda por cima estar irregular na presidência”.

Mais clientes, melhor

Dizer que as garotas de programa só surgiram no Aeroclube após a decadência do lugar; seria uma associação precipitada. “O Brasil é rota de turismo sexual”, opina Marcel Bandeira, cuja loja Makai SurfWear é situada diretamente na fachada de entrada do shopping, local preferido pelas garotas. Natália, garota de programa de 22 anos, adotou o Aeroclube como ponto de trabalho há um ano e meio, sendo trazida por uma amiga que aprovou o trabalho no local. “É bom pra arranjar turistas, porque eles já freqüentam o Aero procurando por mulheres”, afirma Natália.

A partir das nove horas começam a aparecer as primeiras prostitutas, que rondam pelas lojas da frente do shopping. Quanto mais tarde fica, mais elas andam por dentro do local, passeando pela frente do cinema, sentadas à praça de alimentação. São quase freqüentadoras habituais, não fossem as constantes investidas e abordagens de homens à procura de prazer pago – entre 60 e 80 reais.

Bandeira acredita que prostituição é um problema social do país e que “tem em todos os lugares, no Shopping Iguatemi também tem”. Ele atribui ao pequeno número de freqüentadores do Aeroclube o fato das prostitutas “aparecerem mais, ganharem destaque”. Ele acredita que com a revitalização do lugar elas não vão ter mais ambiente propício para se prostituírem. Já Natália pensa o contrário. “Quanto mais freqüentadores no shopping, mais clientes pra gente”.

 
 
 
   
 
 
   
   
   
 
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Universidade Federal da Bahia. Jornal da Facom. 2007.