Às vésperas da inauguração do novo empreendimento, a comunidade do bairro de Pernambués não é unânime quando o assunto é o Salvador Shopping, localizado na Avenida Tancredo Neves. Moradores dos bairros carentes vizinhos ao mega-templo de compras previsto para abri no final de maio, reclamam dos transtornos provocados pela retirada de linhas de ônibus coletivos. Em contrapartida, parte da comunidade acredita que a construção do shopping possibilitará melhoras no bairro.
A construção do shopping, com 263 lojas, deve gerar cerca de 12 mil empregos diretos, segundo dados oficiais. Números relevantes, quando dados divulgados, recentemente, por pesquisas realizadas pelo DIEESE comprovam que Salvador possui uma taxa de desemprego de 22,3% da população economicamente ativa.
Enquanto isso, moradores de Pernambués e adjacências acotovelam-se em filas para a entrega de currículos no novo shopping. Dilma Guimarães, moradora do bairro, mostra-se cética quanto às possibilidades de geração de empregos através do empreendimento. “Acho que não vai dar em nada. Meu filho já colocou o currículo lá há uns dois meses e não chamaram ele ainda”.
Algumas pessoas da comunidade acreditam que tudo não passa de mais uma grande frustração. Essa é a opinião de Ana Paula, secretária da Sociedade Beneficente 10 de Julho, instituição de cunho social da comunidade de Pernambués. As pessoas daqui podem até freqüentar, mas não sei se vão poder consumir. Pode favorecer assim, no sentido de só apreciar.
A associação de moradores da qual Ana Paula faz parte oferece cursos profissionalizantes para os moradores. No momento, informa a presidente, estão sendo oferecidos cursos de garçom e de “atendimento ao cliente”. Ninguém da Prefeitura ou do shopping entrou em contato para captação desses profissionais recém formados.
Obras influenciaram mercado informal nas comunidades
Para a aposentada Rose Lemos, moradora da Grande Bahia, região também próxima ao shopping, “tudo piorou” com a construção do empreendimento. “Muita gente tem colocado currículo lá, até gente do interior tá colocando. Mas você sabe que só chamam parente de vigilante”. As mudanças ocorridas no tráfego da região também são motivos de indignação para a aposentada. “Mais de dez linhas de ônibus mudaram. Minha filha que estuda no subúrbio tem que acordar 4 e meia da madrugada para pegar transporte. Melhorou como?”, desabafa.
A aposentada, que procura agora uma nova casa para alugar, dificilmente encontrará desconfia uma de suas vizinhas ouvida pela reportagem. Isso porque boa parte das casas disponíveis foi alugada pela administração do shopping para funcionários que não moram no local. O barraqueiro Lenilson Ferreira comenta: “O shopping tem mais aspecto positivo que negativo. O valor das casas pra alugar aqui subiu por causa dele. Quem cobrava 100 por mês, cobra agora 150 reais”.
Quanto aos transtornos causados pelo reordenamento do trânsito, Ferreira é taxativo: “Todo o trânsito da cidade é caótico. Aqui ainda tem muitos ônibus, também tem a passarela” - que liga a região de Pernambués à Avenida Tancredo Neves, hoje uma das mais movimentadas da capital.
Alimentar o contingente de funcionários contratados para agilizar a obra também é tarefa que rendeu lucros a pequenos comerciantes da região. É o caso de Maria de Jesus, que fornece comida em “quentinhas” aos operários da obra. “A gente abriu há pouco tempo e tem sido uma época boa. As quentinhas poderiam ser mais, mas é que eles (os operários) vêm comer mais aqui na barraca”, declara.
As obras, com prazo definido para serem concluídas em meados de abril, estavam a pleno vapor no final de março. Novos operários foram acrescidos ao contingente inicial. Tudo deveria estar pronto para a inauguração no dia 22 de abril, mas no início desse mês foi adiada para maio. Procurada pela equipe de reportagem para falar sobre os impactos sociais gerados pela construção do empreendimento na região, a assessoria do shopping não quis se pronunciar. |