Inicial | Índice | Editorial | Edições Anteriores
Validade desta edição: até 13 de Maio de 2007
| Fale Conosco | Expediente
 
 

Sobre como escolher uma empregada

 
 

Por Juliana Cunha

 
 

No dia em que puderem reunir um pouco de fezes do Paulo Francis, algum escarro de Gregório de Mattos e uma quantidade razoável de pentelhos do Stálin, terão encontrado o meu caldo primordial. Bem menos romântico que a poeira estrelar da qual são compostos os pobres alvos de minhas críticas. Eu falo de mim, claro. A musa da poesia moderna é a metalinguagem. E jamais digo “em minha opinião”. Se eu estou dizendo, obviamente é minha opinião. Mamãe bibliotecária me ensinou ABNT e eu fingi que aprendi. Assumindo o fingimento, que é uma forma de ser um mentiroso honesto. Limpinho, impostos pagos, outras coisas impostas.

Nos os últimos cinco anos, andei por ai fazendo uma literatura bastante porca e críticas, e críticas e críticas. Com isso, ganhei alguma notoriedade. Pejorativa, na maioria das vezes. Falem mal, mas falem pouco. É o meu lema. Não tem funcionado, as pessoas falam mal, falam muito e, principalmente, falam muito mal.

O meu caminho para o estrelato se deu na estradinha de Geociências (entrada da UFBA via Caetano Moura), onde recebi uma ameaça pelos absurdos que escrevo. Depois disso, perdi minha coluna no jornal A Tarde (onde escrevi por mais de quatro anos). Mas vocês já devem estar carecas de ouvir essa estória. Todo mundo está. Virou assunto de mesa de bar. Algo como discutir se Capitu traiu ou não. E eu digo que ela não traiu. Bento Santiago. É Bento, mas é também Iago. Iago da Desdémona, claro. E Desdémona lembra desdém, que é o que tudo isso vem me causando. Ver demais por ver demais, ando preferindo o Seymour Glass.

Quando Eça de Queiroz lançou O Primo Basílio, Machado disse que o livro ensinava as moças de classe média a escolherem suas empregadas. Eça perdeu o bonde da história, esqueceu que, no realismo, o protagonista é o povo. O protagonista deveria ser Juliana, e não Luísa. A Tarde esqueceu a mesma coisa e perdeu o bonde da história por muitos séculos de atraso. Talvez agora tenha aprendido a escolher suas empregadas.

Juliana Cunha, colunista deste jornal, estuda Letras na UFBA.
e-mail: julianasilvacunha@hotmail.com

 

Colunista foi ameaçada

A partir deste número o JF conta com a colaboração de Juliana Cunha, 19 anos, que aceitou convite para manter uma coluna neste jornal. Ela poderá escrever sobre o que quiser e da forma que quiser. Juliana, que faz Letras na Universidade Federal da Bahia, e mantém um blog (www.filosofiaprivada.com), recentemente esteve envolvida num fervoroso debate público, via imprensa e listas na Internet, depois de ter sido vítima de ameaça à sua integridade física por um desconhecido no campus da UFBA, descontente, como muitos, com o que ela escreve. A seguir, a polêmica coluna semanal que mantinha no suplemento “teen” do maior jornal da Bahia foi extinta, depois que ela criticou o jornal por não ter ido à sua defesa diante da ameaça que sofreu. (Da Redação)

 

 
 
 

 

 

 

 

 
   
 
 
   
   
   
 
Leia também
   
 

Em cartaz, a dívida.

Entidade de direitos autorais ameaça penhorar bens do Multiplex Iguatemi, que pode ser fechado novamente.

 
Wagner ainda pisa em ovos
 

Celulares estão na mira

Telefones móveis viram objeto de desejo também para quem quer faturar uma graninha ilegalmente.

 

Ou paga, ou corre

Agiotas contratam cobradores de aluguel e pressionam devedores, que podem pagar até com a própria vida.

 
Angola logo ali

País da África torna-se atrativo mercado de trabalho e de investimento para baianos.

 

Próxima parada, o caos

Terminais centrais de ônibus agonizam em Salvador; prefeito quer privatizar, mas MP vê irregularidades.

 

Via crucis de cada dia

Usuários de ônibus pagam caro pela passagem mas sofrem com serviço sempre ruim.

 
Desafinada Ordem dos Músicos

Artistas contestam representatividade de sua enti­dade, há 22 anos sob a mesma direção.

 
Quando entrar setembro...

Com verbas em atraso, UFBA oferece primeiras turmas do projeto Universidade Aberta.

 
Estudar e morar na capital né mole não

Situação das residências estudantis depende da relação com o poder de prefeitos do interior.

 
Assim não dá

Pessoas com deficiência impedidas de acesso facili­tado aos serviços públicos.

 
Sexo em Casablanca

Moradores reclamam da pouca, ou nenhuma, vergonha no condomínio de classe média na orla.

 
Só para apreciar

Vizinhos pobres de novo mega-shopping da capital estão céticos quanto à possibilidade de melhorar de vida.

 
 
Shopping-problema

Aeroclube atravessa pior “crise de identidade”, com desentendimentos entre lojistas e prostituição

 

Muçulmanos na terra do carnaval

Comunidade islâmica vivendo na Bahia sofre preconceito e enfrenta práticas contrárias à fé.

 
 
 
 
Universidade Federal da Bahia. Jornal da Facom. 2007.