"Eu digo à minha mãe que um dia vou ser um jogador famoso e ela vai me ver na TV". Para a maioria dos garotos brasileiros, esse sonho costuma relacionar-se ao futebol. Mas não para Marcos Matheus, de 12 anos, um dos alunos de tênis do projeto Adote Uma Quadra. Esse projeto, reativado no final de 2005 pela Secretaria Municipal de Esporte, Lazer e Entretenimento de Salvador, oferece de graça aulas de esportes em algumas quadras da cidade - atualmente nas da Boca do Rio, Itapuã, Engenho Velho de Brotas e Ondina (esta, financiada por uma empresa privada).
Matheus já tinha trabalhado de boleiro (espécie de gandula) e se interessava pelo tênis. Há um ano, diz ele, uma prima sua soube das aulas oferecidas gratuitamente na quadra da Boca do Rio e o levou até lá. Sem custos, ele pôde se dedicar ao esporte. “As raquetes são doadas pela Prefeitura. Poucos aqui têm condições de ter um material próprio”, conta Marcos Villane, 24 anos, um dos professores do projeto. Os requisitos para se matricular são atestado de matrícula escolar, atestado médico, carteira de identidade, foto 3x4 e presença do responsável.
Além de aulas de tênis, o projeto oferece outros esportes, como handebol, futebol e basquete. Muitos alunos participam de várias modalidades em uma mesma quadra, e o tênis não é unanimidade na preferência das crianças. Por exemplo, Guilherme Carvalho, de 7 anos, também aluno do projeto, gosta mesmo é de futebol. Mas o que vale é praticar um esporte, independentemente de qual seja. "Aqui é um lazer para mim, é melhor do que ficar em casa vendo televisão", conta Rutiely Oliveira, de 10 anos, mais uma praticante do tênis.
“Esporte é saúde”
Para alguns, o esporte é mais do que apenas uma forma de lazer. É uma maneira de cuidar da saúde. Assim pensa a dona-de-casa de Vale dos Lagos Berenice da Silva, de 46 anos, uma das cerca de 700 pessoas que foram à Tribuna de Honra da Fonte Nova em 20 de março, primeiro dia de matrícula nas escolinhas de esportes da SUDESB (Superintendência de Desporto do Estado da Bahia). “Eu tenho problemas de saúde, então meu médico me recomendou fazer exercícios”, revela. Para garantir a vaga na yoga, o primo dela ficou na fila desde a meia-noite do dia anterior.
O projeto das escolinhas da SUDESB foi criado em 1984, se mantendo até hoje, mesmo com as trocas de governo. Atualmente são oferecidas 6 mil vagas, de graça, em 18 esportes diferentes. Segundo o coordenador de esportes da SUDESB, Álvaro Oliveira, o número de alunos matriculados este ano ainda é semelhante ao anterior, em torno de 5 mil pessoas, mas as matrículas estarão abertas durante todo o ano. Em relação ao investimento do governo, houve mudanças. Ainda segundo Oliveira, no ano passado, no governo de Paulo Souto, o projeto recebeu R$ 1 milhão e 100 reais. Já neste ano, na gestão do governo Jacques Wagner, essa verba diminuiu para R$ 900 mil reais.
Algumas modalidades esportivas estão disponíveis apenas para crianças e adolescentes, e outras apenas para adultos e idosos, o que causa insatisfações. “Eu queria fazer natação, mas para os adultos só há modalidades como Tai-Chi-Chuan e dança de salão”, reclama o taxista Edson Batista, de 52 anos, morador do Cabula. Oliveira explica que não é possível para a SUDESB atender toda a demanda, então crianças e adolescentes são prioridade, por ainda estarem se iniciando nos esportes e não terem renda própria.
Para se matricular, é exigido um atestado médico, comprovando que a pessoa tem condições de praticar o esporte escolhido. Também, no caso de crianças, é necessário levar atestado escolar, de modo que o horário das aulas não coincida com o das escolinhas de esportes.
A gratuidade desses projetos é o ponto mais elogiado. Grande parte da população não tem condições de arcar com os custos de escolinhas particulares. A mensalidade de uma academia de natação, por exemplo, fica em torno de R$ 80 reais. Já uma de tênis, pode chegar a R$ 140 reais. “Dá a possibilidade de praticar esportes para quem não tem condições de pagar uma escolinha”, diz Berenice. |