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Ser gordo é ser, gordo

 

 

Vanessa Barbosa
Da equipe de reportagem

 
Arquivo pessoal
 
 

Gordos são depressivos e complexados ou palhaços que se lambuzam enquanto assaltam a geladeira?

A imagem do obeso, na mídia em geral, oscila entre os dois extremos. Nas telenovelas, os personagens gordos são sempre altamente cômicos. Depois da constatação de que o Brasil deixou de ser um país de desnutridos para ter 43% de adultos com sobrepeso, reportagens com crianças gordas e depressivas ganharam ainda mais espaço nos jornais e programas de TV.

O sobrepeso aumenta as chances de problemas ortopédicos, infecções respiratórias e de pele, sem falar dos conflitos emocionais que interferem no convívio social e na vida escolar. A capacidade de superação talvez explique a alegria de muitas pessoas obesas que passam longe da “deprê”. Mesmo sentindo o peso de muitos estereótipos - preguiça, gula, cansaço.

Segundo o psicólogo Lewis Levine, que atende no Centro Médico Linus Pauling, no bairro de Itaigara, é comum pessoas que sofrem com obesidade moldarem-se alegres, estrategicamente, para vencer o preconceito. Levine diz, no entanto, que há pessoas plenamente felizes, capazes de encarar a obesidade sem complexos, sem terem de se comportar como referências de bom-humor o tempo todo.

Ana Márcia Silva, 32, professora, afirma ser gorda desde a infância e nunca ter mudado para ser aceita por seus amigos. A obesidade é uma doença multifatorial. Pode ser provocada por predisposição genética, distúrbios endócrinos e maus hábitos alimentares. Glaura Luz, professora de nutrição da UFBA, acredita ser o equilíbrio psicológico um facilitador do tratamento contra a doença.

Jamile Costa, 23, universitária, 99kg , 1,69m de altura, olhos castanhos, cabelos curtos e curvas avantajadas, declara: “Eu sou feliz, sempre fui e tenho o maior pavor quando relacionam felicidade ao fato de eu ser gorda”. A universitária criou, pelo menos, três comunidades no Orkut de “gordinhos bem amados”, sendo quase uma representante oficial. Ela considera o emagrecimento como perda de identidade, pois desde que se entende como indivíduos é gorda. Segundo seus relatos, não deseja ser magra, as pessoas é que desejariam isso.

A nutricionista e professora Glaura Luz ressalta o interesse no tratamento da obesidade não como emagrecimento total e sim como prevenção de doenças associadas ao excesso de peso. “Nós não podemos obrigar as pessoas a se tratarem. Mas, é o nosso papel ressaltar a importância da preservação da saúde, que significa geralmente perder peso e não tornar-se magro”, explica.

Perfil “carnudo” desperta fetiche

A Loja das Gordinhas, localizada no Shopping Outlet Center, é pioneira na venda de roupas produzidas em tamanhos maiores. Viviane Estrela, proprietária do estabelecimento, considera o mercado lojista em adequação às necessidades de consumidores gordinhos cada vez mais ousados. As blusas de mangas, roupas de tonalidade escura e “fechadas”, estão perdendo espaço dentro desse contexto.

Jamile Costa desabafa: “As roupas de gordo são sempre sacos de batata sem forma. Não vou comprar roupa para a mãe do dono da loja, mas para uma jovem de 23 anos, tenho o direito de vestir saias, mines ou espartilhos. Gosto de usar tudo isso, quem deve julgar se vai ficar bem ou não sou eu”. Os homens gordinhos também prezam por um visual moderno. O estudante Adeilton Barbosa, 22, 98 kg, 1,70m, relata a dificuldade encontrada todas as vezes que vai às compras e confessa, contudo, não abrir mão de se vestir bem.

Muitos homens e mulheres sentem-se atraídos pelo “perfil gordo” que esbanja fartura nas formas e tamanhos. Contrariando a ditadura da beleza, cujo padrão estético é o do corpo magro. Anamim Carvalho, 19, universitária, tem fetiche por homens gordos. Nas festas, “carnudos” têm mais chance com a estudante. O que dizer do aposentado Francisco Barreto, 66, 65kg, 1.70m , que se casou duas vezes com mulheres decididamente “maiores” que ele? “Eu não sei por que sou o único magro da família. Minha primeira esposa era gorda, a segunda também é e os meus filhos são todos da pesada”, conta sorrindo.

Histórias de amor entre gordinhos são também enredos interessantes. Janaína Calaça de Sá, 25, escritora, e Fábio Brito, 28, analista de suporte, são atores reais de um desses.  Ambos são “gordinhos”, se conheceram na internet em 2001 e hoje estão casadíssimos. Eles têm vencido o preconceito e se mantido unidos. “Algumas pessoas já fizeram piadas em relação à nossa cama e não eram pessoas desconhecidas. Sinto que nos olham de maneira estranha, porque devem achar absurdo um casal de gordos ter vida normal. Talvez impere a imagem de que os gordos sejam desprovidos de desejos e do direito a viver de maneira intensa sua sexualidade”, relata a escritora.

 
 

 

 

 
   
 
 
   
   
   
 
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Universidade Federal da Bahia. Jornal da Facom. 2007.