A maior briga do jornalista Anísio Felix nos últimos 13 anos foi a de tentar obter justiça para algumas dezenas de ex-funcionários do extinto Jornal da Bahia, fechado no início dos anos 90, literalmente à calada da noite, por seu então proprietário, um ex-prefeito de Salvador agora proprietário e locutor de uma estação de rádio. O quanto este ignaro patrão, travestido morde-e-assopra radialista, cujo certificado profissional foi obtido às expensas da ilegalidade das mãos de um delegado regional do trabalho (depois vice-prefeito de Salvador e verdugo de uma faculdade privada das imediações do Campo Grande), pôde fazer para desmerecer Anísio Felix, o seu trabalho e o seu caráter, o fez.
Anísio resistiu, comendo o pão que um basco amassou, na aventura deste de também ser dono de um outro jornal na Bahia nos mesmos anos 90. Como o JB, esse também foi fechado erraticamente, numa sucessão de irresponsabilidades empresariais que tem afetado duramente a qualidade do jornalismo baiano. Depois disso, Anísio mudou-se para o Rio de Janeiro para prosseguir militância e beberança, muito amigo que era do lendário Caó, ex-deputado federal que dá nome a uma lei anti-racista e também jornalista baiano radicado na capital carioca. Das muitas vezes que retornava a Salvador, para lançar seus livros e prosseguir na lida, era sempre sorrisos, era sempre político, o “negão”.
Anísio presidiu, na pior fase da ditadura de 64, o Sindicato dos Jornalistas da Bahia e se destacou nacionalmente na organização da chapa que concorreu à primeira eleição direta da Fenaj (a federação da categoria). Fechado o JBa., comprou a briga contra o ex-patrão todo-poderoso dono de uma audiência cativa num microfone que utiliza para negociatas e aleivosias, à guisa de informar. Só para se ter idéia, o atual presidente da OAB-Bahia era o fiel escudeiro jurídico nas artimanhas do mau administrador, uma vez apontado pela Procuradoria Municipal como usurpador de verbas municipais com empreiteiras num valor de 200 milhões de dólares.
Anísio manteve-se o quanto pode fiel aos estatutos que regem a atividade profissional.Vale dizer que na defesa da categoria com ex-colegas que se aliaram ao capo. Transformou-se, por isso, numa espécie de pária: respeitado em sua dignidade mas desimportante para a lógica mercantil do jornalismo de palanque. Anísio Felix morreu aos 70 no 27 de fevereiro 2007, em Salvador. Morreu como alguns dos seus colegas de mesma empreitada judicial, sem ver os processos de indenizações trabalhista e moral que reivindicam chegar a termo. Escudado por equipe de advogados íntimos dos meandros judicias, e ainda por cima com uma rádio que lhe dá poder de uso, desuso e ameaças, o réu ganha tempo em cima da ignorância e do temor alheios.
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