Inicial | Índice | Editorial | Edições Anteriores
Validade desta edição: até 13 de Maio de 2007
| Fale Conosco | Expediente
 
 
 

Hip Hop social

Protagonistas apontam face educativa do movimento

 

Eva Cavalcante
Da equipe de reportagem

 
Arquivo pessoal
 
 

Toda terça-feira, por volta de 6 da tarde, já é possível ver uma movimentação diferente da habitual nas imediações da fonte luminosa, Praça da Sé. As pessoas que vão se aproximando e se cumprimentando vestem camisas largas, tênis, calças esportivas ou bermudões. Na cabeça, o boné, gorro ou uma faixa revelam: são fãs ou integrantes da cena hip hop de Salvador. A reunião acontece pra divulgar o break, um estilo de dança que, juntamente com o rap, o grafite e as batidas musicais, compõem os desdobramentos artísticos da cultura hip hop, movimento importado para o Brasil na década de 80, direto dos guetos novayorkinos.

Segundo Ananias, o B-boy (breaker boy - dançarino de break) responsável pela roda semanal desde 2002, o primeiro grupo de break de Salvador surgiu em 1989, no periférico bairro do Lobato, área suburbana da cidade. Desde então a dança, de acordo com ele, tem sido mais vista e conhecida, se expondo em praças e outros locais públicos como estações rodoviárias. Mas nem só de movimentos sincronizados é feito o break. Ananias revela sua peregrinação pelas escolas da cidade, conversando com crianças e adolescentes, ensinando-lhes um pouco do que sabe e mostrando para os amantes do break que além da arte em si, preocupar-se com os problemas do seu bairro e estar disposto a ser agente de pequenas mudanças sociais faz parte do processo de ‘redenção’ proposto pelo movimento hip hop.

A contrapartida social é uma bandeira quase unânime, proclamada por b-boys, MCs (mestres de cerimônia – os que disparam suas idéias em versos rimados) e DJs (responsáveis pelas batidas musicais). DJ Branco, assessor de comunicação da Rede Aiyê Hip Hop, uma congregação de grupos e núcleos de Salvador e do município de Lauro de Freitas, já promoveu debates, como o que deu origem ao projeto Salvador Grafita: Poder Público, Grafiteiros e Pixadores – Um bombardeiro de Idéias, em 2005. DJ Bandido promove no bairro do Nordeste, à frente do grupo Quilombo Vivo, escolinhas de rap e grafite, e estende os seus conhecimentos a escolas de Salvador e de outros Estados. Negro Davi, junto com a posse Família de Pernambués promoveu em janeiro de 2006 o show beneficente “Hip Hop Solidário”, arrecadando alimentos (o ingresso para a festa era um quilo de alimento não perecível), doados para a Creche Nossa Senhora da Luz.

Gangsta e mídia

Mas nem todos acompanham a roda na mesma sintonia. A responsabilidade social e a identidade dos hip hoppers com os problemas tematizados nas canções de rap se confrontam com o fenômeno da conversão do estilo em produto mercadológico. É o chamado Gangsta Rap, a face mais comercial do rap – uma explosão nos Estados Unidos - que traz letras glorificando a violência e a vida bandida, e clipes nos quais os cantores são sempre cercados de carros, mulheres, correntes de ouro e muito luxo.

Perguntados se essa tendência já chegou ao Brasil, e mais particularmente a Salvador, Bandido, Branco e Ananias foram taxativos: nunca precisaram da mídia massiva para continuar com a ação social. Branco revela, porém, que chegou a avançar negociações com um produtor ligado a uma produtora de artistas da axé music, para gravação e lançamento de um disco reunindo rappers soteropolitanos. Não deu certo, mas diz que talvez os meios de comunicação possam ser usados beneficamente pelo hip hop, como instrumento acelerador de mudanças, e cita o episódio da veiculação (em outubro do ano passado) do documentário “Falcão – os meninos do tráfico”, idealizado pelo rapper MV Bill. Bandido também já foi sondado algumas vezes por grandes produtoras locais desse segmento. Apesar de ser contratado para animar festas destinadas a jovens com situação financeira bem melhor do que a sua, ainda não foi dessa vez que Bandido se rendeu às favas da mídia.

Se a influência do mercado implica um afastamento da postura politicamente engajada, eles não souberam responder. Traição para os mais militantes, o sucesso fonográfico pode ser, para os menos radicais - como chamou a atenção o Negro Davi - a chance daqueles saídos da miséria conseguir sustento e conforto através da música. Seja qual for o motivo, a polêmica continua.

 
 

 

 

 

 

 

 
   
 
 
   
   
   
 
Leia também
   
 

Em cartaz, a dívida.

Entidade de direitos autorais ameaça penhorar bens do Multiplex Iguatemi, que pode ser fechado novamente.

 
Wagner ainda pisa em ovos
 

Celulares estão na mira

Telefones móveis viram objeto de desejo também para quem quer faturar uma graninha ilegalmente.

 

Ou paga, ou corre

Agiotas contratam cobradores de aluguel e pressionam devedores, que podem pagar até com a própria vida.

 
Angola logo ali

País da África torna-se atrativo mercado de trabalho e de investimento para baianos.

 

Próxima parada, o caos

Terminais centrais de ônibus agonizam em Salvador; prefeito quer privatizar, mas MP vê irregularidades.

 

Via crucis de cada dia

Usuários de ônibus pagam caro pela passagem mas sofrem com serviço sempre ruim.

 
Desafinada Ordem dos Músicos

Artistas contestam representatividade de sua enti­dade, há 22 anos sob a mesma direção.

 
Quando entrar setembro...

Com verbas em atraso, UFBA oferece primeiras turmas do projeto Universidade Aberta.

 
Estudar e morar na capital né mole não

Situação das residências estudantis depende da relação com o poder de prefeitos do interior.

 
Assim não dá

Pessoas com deficiência impedidas de acesso facili­tado aos serviços públicos.

 
Sexo em Casablanca

Moradores reclamam da pouca, ou nenhuma, vergonha no condomínio de classe média na orla.

 
Só para apreciar

Vizinhos pobres de novo mega-shopping da capital estão céticos quanto à possibilidade de melhorar de vida.

 
 
Shopping-problema

Aeroclube atravessa pior “crise de identidade”, com desentendimentos entre lojistas e prostituição

 

Muçulmanos na terra do carnaval

Comunidade islâmica vivendo na Bahia sofre preconceito e enfrenta práticas contrárias à fé.

 
 
 
 
Universidade Federal da Bahia. Jornal da Facom. 2007.