Qualquer dia da semana, em qualquer bar de esquina, sempre tem alguém dançando em Salvador, não importa a música. Apesar disso, percebe-se que os espetáculos performáticos e contemporâneos possuem um público restritíssimo. O único segmento performático que tem platéia assídua é o balé, devido ao seu status e tradição.
Noite de sábado. Uma banda de salsa se apresenta no Alphorria Dancing Bar, na Rua Direita do Santo Antônio, nº 43, ingresso 7 reais e consumação mínima 5 reais. O ambiente mantém-se à meia-luz e os freqüentadores são contagiados pelo ritmo. “A vida sem dança não é vida”, diz o dançarino Igor Rodrigues, que se apresenta no bar com a banda Açúcar Improviso Latino. Ele ainda está fazendo um curso para se profissionalizar, mas já comanda praticamente todos os movimentos das outras pessoas no local. “Isso aqui me deixa muito motivado, porque o artista deve fazer isso, levar emoção para o próximo”.
A emoção e os sentidos também conduzem os freqüentadores do clube “Primeiro de Maio”, mais conhecido como “Sete Facadas”, localizado na Avenida Vasco da Gama, ingresso a 2 reais e 50 centavos. O lugar é amplo e simples. Basta uma cantora e um tecladista para que todos dancem ao ritmo do arrocha, de olhos fechados, até o amanhecer. Funcionária do bar do local, Marilene dos Santos diz que ama dançar. “Eu saio de mim, não sei quem sou, quem está comigo”.
Apesar de seus pontos em comum, as danças livre e performática não podem ser comparadas, pois são organizações totalmente distintas. Para a professora da Escola de Dança da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Jussara Setenta, a dança livre não pode ser considerada artística. “É algo voltado somente para o entretenimento e para o prazer. O espetáculo artístico, ao contrário, deve levar a pessoa à reflexão e não só ao prazer. Podemos sair de um espetáculo incomodados, por exemplo” diz. Ela ainda defende que a dança não se populariza, pois não há uma continuidade dos espetáculos. Eles ocorrem sem uma periodicidade, o que faz com que o público não se familiarize com esse tipo de expressão artística.
Para o produtor cultural Euzébio Cardoso, a dança como espetáculo público na Bahia está mais ligada aos movimentos culturais afro e afoxé. Associado ao projeto Mirante do Samba (rua do Paço, Centro Histórico, sábados a partir das 20h), ele complementa: “Todo o resto, além disso, ainda é muito caro e elitizado”. Muitas pessoas alegam o alto custo dos espetáculos e a má divulgação como motivos para a baixa freqüência. Ibelize Thiara, estudante da Escola de Dança da UFBA acredita que o problema é outro. “É uma questão cultural. As pessoas em Salvador não valorizam as artes, isso não acontece só com a dança”.
Escola da UFBA faz Dia D
Com o objetivo de popularizar essa linguagem artística, os alunos da ED/UFBA realizam no dia 29 de abril de 2006 o “Dia D”. A data foi instituída pela UNESCO (órgão das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) como o dia internacional da dança, com o objetivo de atrair maior número de apreciadores.
Em 2007, a escola planejou a programação do “Dia D” com o apoio de profissionais da área e de outras pessoas que têm mostrado interesse. O Teatro Vila Velha também definiu uma programação voltada para este segmento durante todo o mês de abril. Palestras e exibições de vídeos, com entrada franca, fazem parte do programa.
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