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Barbados no baile

Homens vestem véu, caem no rebolado e aprendem que também podem seduzir com a dança do ventre

 

Dayse Porto
Da equipe de reportagem

 
Reprodução
 
 

Maquiagem forte nos grandes olhos claros, feições delicadas, corpo magro e alto, longos cabelos negros. Rafael Jones se veste com calças bordadas, peito nu ou blusa curta, roupas que ele mesmo costura. Ele é dançarino do ventre, uma atividade que, ao menos no Brasil, ainda leva o estigma de estar ligada à feminilidade. E quando os homens decidem pôr véus, cinturões de lantejoulas e cair sinuosamente nessa dança? Em Salvador, os bailarinos já não passam desapercebidos e a dança do ventre masculina vem ganhando espaço.

Sobre a homossexualidade e a dança? Jones comenta: “Não vejo uma implicação. No meu caso, é uma forma de liberar a minha energia feminina. Se não fosse isso, acho que ia andar por aí travestido. Agora, há bailarinos no Brasil que são casados, têm filhos. Claro que não vou botar minha mão fogo por eles, mas...”.

Adeptos da dança do ventre não podem se queixar da quantidade de conotações místico-religiosas, sensuais e por vezes lendárias sobre o assunto. Segundo o site “Nandhara Kaaran” a dança nasceu na Ásia Menor e depois foi para o Egito. Já o endereço eletrônico da “Dança do Ventre na Turquia” diz que uma de suas origens pode ser grega. Muitas versões à parte, o consenso acaba sendo o de que a dança nasceu de uma “fusão de culturas”.

O site especializado “Líbano Show” fala da participação do homem na chamada dança árabe em ritmos folclóricos, a exemplo do Saaid, normalmente acompanhando a mulher e executando passos peculiares. Os bailarinos ouvidos dizem que em países árabes, como os Emirados, os homens são os principais coreógrafos, mas são proibidos de dançar como as mulheres.

Rafael Jones, 25, relembra que em 1998 fazia teatro e teve que interpretar um faraó bailarino de dança do ventre. Buscou escolas de dança, professoras autônomas e não havia quem se dispusesse a dar aulas para um homem. Passaram-se nove anos e Jones, o precursor da dança do ventre em Salvador, é figura cativa na maioria dos eventos da dança, as chamadas festas árabes. Tem seu próprio espaço para aulas, o Centro de Arte e Terapia Templo Sagrado”, ensina a mulheres, senhoras e tem quatro rapazes como alunos.

Marcos Ghazalla, 30, outro bailarino e professor de dança do ventre, migrou  da dança contemporânea e diz que os dogmas e o caráter místico-religiosos associado à dança do ventre acaba atrapalhando a classificação artística do gênero. “Dança do ventre é arte, não é reafirmação de nada para mim” diz Ghazalla.

Jones diz que contando com seus alunos são sete os bailarinos em Salvador. No Brasil, já há nomes bem conhecidos, como Henry Netto, de Minas Gerais, que levou a medalha de prata do Concurso Internacional de Dança de Joinville, em 2001. Henry, inclusive, deu o ar de sua graça andrógena em algumas participações na novela “O Clone”.

Em fórum numa comunidade do Orkut sobre dança do ventre, 75% das opiniões eram contrárias à prática da atividade por homens. “Só pode ser inveja do útero feminino”, diz um anônimo. Juliana Moreira, 23, é uma das poucas bailarinas em Salvador que falam sobre o assunto. “A dança é feita para o corpo feminino. Então, eu não acho, assim, uma coisa linda, sabe? Mas tem bailarinos que dançam muito bem”, diz.

Sobre o preconceito, Ghazalla declara que nunca sofreu nenhuma discriminação do público. Já Rafael Jones conta algumas das situações por que passou: “Eu fui dançar num shopping e tinha um homem que levantava o guarda-chuva toda vez que eu olhava para ele. Quando eu parava de olhar, ele abaixava. A gente passa por esse tipo de situação”.

Serviço

Rafael Jones atende no Centro de Arte e Terapia Templo Sagrado, rua. Dr João Pondé, 240, Barra. Tels.: 3264 7374/ 3267 1119. (www.temploarte.com.br). Marcos Ghazalla atende no Espaço AeroGap, Rua Archibaldo Baleeiro, 69, Rio Vermelho. Tel 3347-1821.

 
 

 

 

 

 

 

 
   
 
 
   
   
   
 
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Universidade Federal da Bahia. Jornal da Facom. 2007.