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Filosofando no vazio

.Instalações de faculdade da UFBA estão caindo aos pedaços, ameaçando todos os frequentadores

 

Mirela Gonçalves
Da equipe de reportagem

 
Humberto Saldanha
Estudantes dos dois sexos da FFCH dividem o mesmo sanitário
 

“Somos um bando de loucos”, afirma Lina Maria Brandão, diretora da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFBA., que fica no bairro de São Lázaro. “Que outro lugar, dentro das mesmas circunstâncias, conseguiria produzir tanto? Essa é a única explicação”. Não é novidade que o campus de São Lázaro possui graves problemas estruturais. As instalações prediais onde funcionam os cursos de Ciências Sociais, História, Filosofia, Psicologia e Museologia, freqüentados por cerca de 2 mil alunos da graduação e da pós-graduação em dois turnos, são absolutamente deficientes. Algumas salas de aula não possuem sequer ventilador, os banheiros quase sempre estão quebrados ou insalubres, faltam recursos tecnológicos, além de a área ser cercada por vegetação fechada, facilitando pequenos furtos e arrombamentos.

São Lázaro também não é à prova de chuva. “Quando chove, dormimos com medo. Os telhados antigos são tão vulneráveis que uma noite de tempestade quase sempre implica perdas materiais”, confirma a aluna Elionara da Silva Calmon. Como se não bastasse, uma praga de cupins ameaça silenciosamente os prédios do campus. E a lista de carências não pára por aí. Seus alunos não possuem acesso ao CPD (Centro de Processamento de Dados), e a biblioteca funciona até às 2h da tarde, por falta de funcionários.

“É um absurdo o que acontece aqui”, diz Luciene Tavares, aluna de Ciências Sociais. “A situação é tão terrível que chega a atrapalhar as aulas, e muitas vezes não há condições de estudar. Alguns professores preferem ir dar aula no PAF (Pavilhão de Aulas no campus de Ondina) ou no PAC (Pavilhão de Aulas no campus do Canela) onde há recursos de aprendizagem que não temos, como retro - projetores e salas de vídeo equipadas”. A questão mobiliza Centros e Diretórios Acadêmicos, além de figurar na pauta das organizações estudantis atuantes.

Questionada se a FFCH seria vítima de um repasse injusto das verbas federais, Brandão assevera que as coisas não são tão simples assim. “A distribuição das verbas é feita através de uma fórmula matemática, que especifica a quantidade destinada a cada escola”. Não haveria, assim, favorecimentos. O problema se encontra no fato de a verba para reforma e manutenção enviada pelos órgãos administrativos ser mínima, enquanto o dinheiro maior, destinado à construção de novas unidades, ser sempre retardado pelos trâmites burocráticos. “A minha opinião é que, devido às circunstâncias especiais de localização e estrutura de São Lázaro, nossa faculdade merecia um pouco mais de atenção por parte da Reitoria”, afirma a diretora.

Exemplo acadêmico
Diante de tantas deficiências diagnosticadas, realmente intriga o paradoxo que as paredes antigas da FFCH abrigam. Apesar de todo quadro negativo, São Lázaro sobrevive e é exemplo em produção acadêmica, pesquisa e atividade estudantil. A faculdade desenvolve diversos programas de relevância social, como a oferta de serviço psicológico gratuito à comunidade ou o Núcleo de Estudos Interdisciplicanares sobre a Mulher (NEIM).

Atualmente, o ambiente bucólico e rupestre cercado de árvores seculares e com vista para o mar se tornou um grande canteiro de obras, pois será construído um novo pavilhão de aulas com o dinheiro recém-liberado pelo governo federal. Mas os outros prédios continuam debilitados e carentes de conservação e restauração, até mesmo pelo seu caráter histórico: a reportagem apurou que a faculdade ocupa, ‘provisoriamente’, desde 1976 o terreno de um antigo convento de freiras . O local teria sido escolhido dentro da lógica da Ditadura Militar de isolar os alunos de Ciências Humanas e Filosofia, com perfil de mobilizadores políticos. Desde aquela época até hoje, o maior bem da FFCH está no seu material humano.

 

 
 
 
   
 
 
   
   
   
 
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Universidade Federal da Bahia. Jornal da Facom. 2007.