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Arte de encrenca

Governo não sabe o que fazer com Museu Rodin,inaugurado por Paulo Souto ao apagar das luzes

 

Camila Kowalski
Da equipe de reportagem

 
Camila Kowalski
O palecete no bairro da Graça, sede do imbroglio herdado do antigo secretário da Cultura
 

O museu é do Estado, mas até agora não está submetido ao governo. Essa é a situação do Museu Rodin Bahia. A casa em que está situado e as quatro esculturas de bronze do artista francês, que já vieram da França, são patrimônio da Bahia, mas quem administra o local é a Associação Bahiana Arte e Cultura (Abacult), que não está sujeita a nenhum órgão estadual.

A nova gestão da Secretaria de Cultura (Secult), Marcio Meirelles à frente, promove um
contingenciamento de despesas no Fundo de Cultura (Funcultura) e, assim, congelou o repasse de verbas para a Associação. Paralelamente, em 28 de março de 2007, o Museu Rodin Bahia fechou as portas, três meses depois de inaugurado pelo ex-governador Paulo Souto. Agora, espera-se a definição de rumos da Secult.

Em 2006, a lista de projetos financiados pelo Funcultura da então Secretaria de Cultura e Turismo de Souto tinha, entre os beneficiados, a Abacult. A quantia aprovada para a “Operacionalização e Dinamização do Museu Rodin Bahia” foi de cerca de 3 milhões de reais. O valor é equivalente ao dobro do que recebeu a Fundação Cultural – órgão do governo que atende a vários municípios – no mesmo ano.

Mesmo com o alto valor do investimento para aumentar as atividades, e apesar de ter recebido quantia semelhante do Funcultura em 2005, nem as esculturas de gesso francesas chegaram a Salvador, nem as oficinas pedagógicas, que estavam previstas no projeto, foram realizadas.
Da quantia prevista em 2006, pouco mais de 2 milhões de reais foram recebidos pela Abacult e aproximadamente 980 mil reais deveriam ser pagos agora em 2007. No entanto, segundo Paulo Henrique de Almeida, superintendente de Promoção Cultural da Secretaria de Cultura, “o Fundo de Cultura não está disposto a continuar sustentando a estrutura atual. Os gastos do ano passado chegaram a 10% do orçamento do Fundo. O Museu terá que passar por uma mudança de direção – na verdade já está passando – e terá que encontrar novos parceiros, novas fontes de receita”.

Paulo Henrique informou ainda à reportagem que a Secretaria de Cultura recebeu uma correspondência da Abacult, citando a possibilidade da mesma ser extinta. No entanto, a superintendente adjunta da associação, Kátia Jordan, afirma que “a permanência da Associação está vinculada ao aperfeiçoamento dos estatutos da mesma em consonância com o atual governo”.

A Abacult está ganhando uma nova face. Da mesma forma que alguns sócios se afastaram, nomes como Dom Gregório, Juarez Paraíso e Matilde Matos são esperados para compor o novo time da Abacult. Um novo presidente também é esperado – o cargo já foi ocupado pelo ex-secretário de Cultura e Turismo, Paulo Gaudenzi, e pelo conselheiro administrativo da empreiteira Odebrecht, Victor Gradin. Hoje está vago.

Depois da mudança de governo, não há ainda uma estratégia clara para o Museu Rodin Bahia. As três possibilidades, segundo a Secult, são a reestruturação da Abacult, outra associação a substituir ou o Estado assumir diretamente o Museu.

Muito dinheiro para pouco

A idéia de construção do Museu Rodin Bahia surgiu após a vinda a Salvador da exposição itinerante das obras de Auguste Rodin – que obteve número recorde de visitantes, 52 mil, jamais superado na cidade. Num acordo inédito, o governo francês concordou em ceder, em regime de comodato, 62 peças originais do escultor. Junto a estas, ficariam expostas outras quatro esculturas de bronze adquiridas pelo Estado. Por ser patrimônio da Bahia, e devido às suas características arquitetônicas, o palacete Villa Catharino, no bairro da Graça, foi escolhida como sede.

Informações do site da assessoria de comunicação do governo do Estado dizem que foi necessário o investimento de 11 milhões de reais para a compra das peças de bronze e para as obras de reforma e restauração do palacete. O projeto contou com financiamento de 5,7 milhões de reais do Programa de Desenvolvimento Turístico do Nordeste, do governo federal.
A quantia investida gera muita polêmica. Poucos foram aqueles que ousaram expor suas opiniões à reportagem. Um desses poucos foi Fernando Lopes, artista plástico. “O Museu é uma maneira de trazer artistas e recursos, mas acho que é mais político que artístico, por causa da forma como foi divulgado e inaugurado às pressas sem nenhuma obra”, disse.

Aos 47 minutos do segundo tempo, quando Wagner já tinha derrotado nas urnas Paulo Souto, em 19 de dezembro de 2006, o Museu Rodin Bahia foi inaugurado pelo então governador em fim de mandato – com apenas quatro das 66 esculturas de Rodin previstas. As duas exposições do dia da inauguração – “Cosmogonia Cravo” e “De Villa Catharino a Museu Rodin Bahia” ficaram abertas ao público por 99 dias, até o final de março.

 

 

 

 
 
 
   
 
 
   
   
   
 
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Universidade Federal da Bahia. Jornal da Facom. 2007.