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Fora do ritmo

Projeto de Carlinhos Brown para o Mercado do Ouro funcionou somente no Carnaval

 

Carla Visi
Da equipe de reportagem

 
Carla Visi
Área aberta dentro do Museu, com a "Caetanave"
 

O Museu du Ritmo foi inaugurado com muita badalação e um show do seu idealizador, Carlinhos Brown, dia 2 de fevereiro de 2007. No Carnaval ofereceu ao público o Baile do Bloco Parado, cuja programação incluiu artistas brasileiros de vários estilos. Localizado no Mercado do Ouro, no antigo bairro do Comércio, em Salvador, o espaço, anunciou o seu criador, pretende ser uma mistura de museu, casa de espetáculos, galeria de arte e “escola de inclusão”. Palavras de Brown: “No ritmo da educação estamos fazendo a escola de inclusão digital... E no ritmo religioso é a recuperação da Igreja de Santa Luzia”
.
O museu começou bem, com todo ritmo, comemorando, com a presença da Orquestra do Mestre Duda do Recife, o centenário do frevo todos os dias de Carnaval. Dois meses depois, numa levada mais para marcha lenta, o museu está fechado. A Duetto Eventos é a produtora que administra o Museu. Segundo Isabelle, a produtora vem trabalhando para conquistar parcerias para implementar o projeto. Primeiro, captar recursos para restauração do imóvel, instalação e funcionamento da Escola de Inclusão Digital. Outros recursos virão do aluguel de algumas áreas do prédio para negócios como escritórios, restaurante, boate, estúdio de gravação e ensaios. Quando estiver funcionando a galeria de arte, também se cobrará um valor simbólico para visitação.

Mercado do Ouro

O Mercado do Ouro foi construído em 1879 e mantém as características típicas de um mercado do Século XIX. Mesmo não sendo tombado, faz parte do contexto arquitetônico do Comércio. Antes de 2005 abrigava no seu interior vários boxes com um comércio diversificado. Dentro de um projeto de revitalização do antigo bairro, a Prefeitura deu suporte para a instalação da Casa Cor Bahia 2005, quando foi demolida a estrutura interna do mercado, que mesmo sem fazer parte do projeto original motivou protestos.

A Casa Cor acabou e o mercado ficou abandonado até Carlinhos Brown, após longa negociação com herdeiros da família Amado Bahia – dona do imóvel - conseguir um contrato de locação. De acordo com a Duetto, há interesse na aquisição definitiva do prédio. Por isso, nesse primeiro momento,a produtora realiza apenas alguns reparos gerais com o intuito de atrair investidores e apresentar o projeto à comunidade.

Todos os recursos iniciais envolvidos foram de Brown. Ele não autorizou a divulgação do quanto foi investido. Comerciantes do mercado afirmam que o Museu pouco ou nada mudou no fluxo de fregueses. Um dos mais antigos negociantes do mercado, que pediu para não ser identificado, falou que o mercado sofreu maior impacto com a Casa Cor, momento em que muitos lojistas fecharam. Os consumidores, confusos, acharam que nenhuma loja havia permanecido no lugar, o que é falso.

Brown pretende assistir moradores do Pilar
Além da revitalização do Comércio, as atividades culturais previstas para o Museu du Ritmo poderão servir de fonte de investimento na comunidade do Pilar, uma área deteriorada do Comércio. “Há algum tempo, Carlinhos procurava uma outra comunidade para trabalhar, já que o Candeal [onde tem um trabalho social] já anda com pernas próprias. Ele viu no mercado, localizado na Cidade Baixa, onde nasceu a cidade e se encontra abandonado, a oportunidade de se fazer um trabalho geral” afirma Maiara Liberato, diretora do museu.

O pessoal do Museu já se aproximou da comunidade do Pilar, com o cadastramento e acompanhamento de algumas das 300 famílias ali residentes, e a distribuição de cestas básicas. A reportagem conversou com alguns moradores. A maioria disse que pouco foi feito até o momento. Uma moradora adolescente e grávida disse que “eles deram cesta básica uma vez, mas foi a maior confusão”. O entorno do mercado é muito pobre. A Escola de Inclusão Digital, prevê os organizadores, deve estar pronta até o fim de 2007, quando parte das obras de restauração estará pronta, já que a previsão para concluir tudo é de dois anos.

Enquanto a reportagem realizava fotos, alunos de uma escola próxima tentaram conhecer o Museu e voltaram da entrada porque, de fato, está fechado. Parte do acervo composto por centenas de instrumentos musicais, peças sacras e telas pintadas por Carlinhos Brown foi retirado devido às péssimas condições físicas do local. Maiara Liberato, da Duetto e diretora do museu, declarou que “Carlinhos fez uma instalação para abrir a casa e apresentar ao público uma prévia do que ele pretende ter no espaço. Para que possamos montar uma galeria como queremos vai demorar, no mínimo, mais seis meses... Precisamos fazer reforço estrutural nas paredes, projeto elétrico e de iluminação, instalação de sistema de refrigeração, controle de temperatura, desumidificador de ar, etc.”. Por enquanto o museu pode abrigar exposições itinerantes e de curto prazo e o espaço está aberto para locação e realização de eventos empresariais e festas conceituais.

Do acervo do percussionista o que permanece no museu é a Caetanave, trio elétrico reluzente de 1972, criado por Orlando Tapajós para homenagear Caetano Veloso, o Rigoletto, escultura do século 17 fundida em bronze inglês, duas estátuas de mármore, uma Cruz de Malta e dois vasos de cobre na área aberta. Na área interna encontra-se instrumentos musicais, quadros assinados por Brown e uma guitarra do pai do soul, James Brown, que faleceu recentemente, mas antes de partir autografou-a para Carlinhos.


 
 

 

 
   
 
 
   
   
   
 
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Universidade Federal da Bahia. Jornal da Facom. 2007.