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A gente não quer só comida

 

Prossegue briga entre o Clube Bahiano de Tênis, Perini e Grupo Sala de Arte

   
 

Beatriz Garcia
Da equipe de reportagem

 
 
Danielle Villella
Com a entrada da delicatessen, o espaço do cinema alternativo foi fechado sem previsão de volta
   
   
 

E depois de 15 meses na expectativa, o público do cinema alternativo de Salvador ficou a ver navios. Desde que a Sala de Arte do Bahiano fechou as portas em janeiro de 2006 para dar lugar à delicatessen Perini, a promessa da abertura de duas salas de cinema, prevista para o início de 2007, ainda não foi cumprida. E pelo jeito não será mais.

O cinema, que fazia parte do Grupo Sala de Arte, era um espaço alugado do Clube Bahiano de Tênis, localizado no bairro da Graça, e recebia por semana cerca de 1.500 espectadores. Com as dívidas do Clube com a Prefeitura de Salvador e com o INSS, seus administradores resolveram alugar o prédio à rede de delicatessens.

O acordo firmado entre o Clube e o Grupo Sala de Arte, segundo um dos sócios do grupo, André Trajano, previa a entrega de um novo espaço para as salas até julho de 2006 para que a própria Sala de Arte administrasse o cinema, com multa mensal de 12 mil reais pelo atraso. Já o diretor jurídico do Clube, Edgar Silva Neto, se recusa a divulgar quaisquer dados desse acordo, mas afirma que houve uma rescisão de contrato e que, portanto, não competiria mais ao Clube a construção das salas.

A confusão levou o Grupo Sala de Arte a entrar na Justiça e agora espera o resultado com clara revolta: quando contactado pela equipe de reportagem, o sócio do grupo, Marcelo Sá, preferiu não se alongar. “Não temos porque nos pronunciar, o processo judicial está em andamento e a Perini não nos procura”.

Segundo Thiago Frederico, da equipe de marketing da Perini, a rede de delicatessens tem o maior interesse na construção das salas, mas isso é uma questão de negociação entre o Clube e a Sala de Arte. Como os freqüentadores da Perini e do cinema alternativo teriam o mesmo perfil, o funcionamento da sala seria bom para ambos os lados. Mas, ao contrário do que se especula na cidade, Frederico desmente que a própria Perini venha construir uma sala de exibição: “O negócio da Perini é alimentação. Não possuímos know how para administrar uma sala de cinema”.

Por enquanto, a perspectiva de uma reabertura da sala é remota. “O Bahiano está passando por uma reestruturação de suas dependências, incluindo o teatro e o cinema, e estamos abertos a ouvir propostas de parceiros ou patrocinadores para levar o projeto adiante”, afirma Silva Neto.

Público sente falta de espaço

“A cultura, a arte, o cinema não têm importância pra quem só pensa em dinheiro. Gostaria de ouvir pelo menos alguma posição oficial da Sala de Arte!”, indigna-se a estudante Mariana Gonçalves, freqüentadora assídua do circuito. Desde o fechamento da “sala do Bahiano”, a contestação do público foi marcante. Em 16 de janeiro de 2006, um abraço simbólico ao Clube reuniu cerca de 300 pessoas e recebeu apoio direto do prefeito João Henrique, que, na ocasião, assumiu publicamente a importância da sala no incentivo à cultura.

Mais duas salas de exibição foram então abertas após o fechamento do Bahiano - uma na Aliança Francesa e outra no Museu de Arte Moderna, totalizando 4 Salas de Arte na cidade. Por pouco tempo também funcionou uma sala na sede da escola Caballeros de Santiago, no Rio Vermelho (já fechada). Apesar disso, o público do cinema alternativo de Salvador ainda sente falta de espaço. Diante disso, o Grupo Sala de Arte planeja ainda para este ano uma nova sala de exibição nas dependências da UFBA e, para o ano que vem, uma sala no shopping Paseo Itaigara, ainda em construção. Isso significaria uma ampliação no circuito da Sala de Arte que, por enquanto, se restringe ao eixo Graça - Centro.

   
   
   
 
   
 
 
   
   
 
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Universidade Federal da Bahia. Jornal da Facom. 2007.