O número de sócios e a quantidade de clubes sociais em Salvador vêm diminuindo desde a década de 80, segundo Alfredo Vasconcelos Filho, presidente do Sindicato dos Clubes Sociais da Bahia (Sindclube). “Salvador já chegou ao ponto de ter 116 clubes. Hoje, temos catalogados 44 clubes”, conta ele. E completa: “No clube Campomar (localizado em Piatã), do qual sou presidente, tínhamos 12 mil sócios. Hoje são 112”.
Os clubes sociais foram surgindo a partir de associações entre moradores de bairros. Era neles que acontecia a vida social do local, com comemorações de aniversários, festas juninas e, principalmente, o carnaval. Com o tempo, foram crescendo e atraindo pessoas de bairros externos, conseqüentemente se profissionalizando. Em contrapartida, começaram a ser fiscalizados pela lei: cobranças de impostos, exigência de legalização das questões trabalhistas, até pagamento de taxas de limpeza à Prefeitura.
Em conseqüência, os clubes sociais começaram a se endividar. “Todos os clubes da Bahia estão pré-falidos, com raras exceções. Todos devem ao INSS e todos estão mergulhados em quantidades enormes de dívidas de questões trabalhistas”, conta Vasconcelos. Ele considera extorsivos os impostos que são cobrados dos clubes, tratando-os como uma empresa comum, apesar de serem entidades ditas sem fins lucrativos. “Os clubes de futebol, que são profissionalizados, recebem subsídios do governo para fazer uma loteria para pagar impostos e recebem redução de INSS, enquanto os clubes sociais pagam os IPTUs mais caros, como se fossem empresas”.
O pequeno número de sócios dos clubes dificulta ainda mais o quadro, pois não gera lucros que possibilitem a quitação das dívidas. Vasconcelos atribui essa diminuição a diversos fatores: mudança do carnaval dos clubes para as ruas, concorrência das praias, estruturação dos condomínios de luxo com piscinas e quadras esportivas, e aquisição de casas de praia pela classe média alta. “Quem freqüenta os clubes sociais hoje são pessoas de classe média para baixa, que não têm acesso a esses luxos em suas residências”, afirma.
Para tentar contornar a crise econômica, alguns clubes estão vendendo partes de seu terreno a outras empresas. É o caso da Associação Athlética da Bahia (AAB), localizada na Barra, que recentemente vendeu 40% de sua área para a empresa ARC Engenharia, que construirá no local um condomínio residencial. Em contrapartida, a construtora se comprometeu a reconstruir a sede do clube. Freqüentadores ficaram insatisfeitos com a demolição da sede atual. “Fará uma grande falta, pois nela estava uma das duas piscinas olímpicas existentes na Bahia”, lamenta Mauricio Kowalsky, ex-aluno de natação do clube.
José Dória, ex-dirigente da AAB, acredita que a venda foi um bom negócio, e poderá trazer renovação ao clube. Mas Vasconcelos não acha que seja um exemplo para outros clubes. “Os clubes precisam viver uma nova fase, com administradores que venham com uma formação acadêmica. Tem que haver profissionalização”, opina.
Português é caso extremo
O caso extremo de decadência é o do Clube Português, na Pituba. No passado freqüentado pelas classes média e alta, hoje sua sede está em ruínas e abriga 54 famílias de sem-teto, em situação de total descaso. As piscinas viraram depósitos de lixo e água parada, o prédio principal da sede encontra-se em degradação e, segundo o morador Elias dos Santos, o governo não dá nenhuma assistência. “Só quem nos ajuda com doações são pessoas comuns, mas mesmo assim, apenas em época de Natal”, conta ele.
As famílias estão sendo transferidas para casas construídas pela Companhia de Desenvolvimento Urbano (Conder) em Vila Valéria, devido a um acordo firmado em maio de 2006 com os sem-teto, mas o processo sofre com a lentidão. Havia, desde fevereiro de 2004, 80 famílias no clube, das quais foram transferidas apenas 26. Segundo a assessoria de imprensa da Conder, eram as que estavam em situação mais precária.