Ivo pensa ser da essência republicana o bom uso da coisa pública. Interessa a todos. Ultrapassa os muros institucionais, mesmo esses regidos por estatutos próprios. No Brasil, quem detém o poder de mando confunde como seu o que é da sociedade. Recentemente, e esta não deve ser prática recente nem isolada, o aparato jurídico da Universidade Federal da Bahia foi mobilizado pelo gabinete do Magnífico reitor, o mesmo que propugna uma “universidade nova”, para defender na Justiça Federal ato apontado como atentatório à bolsa e ao interesse públicos. Ivo, solitário autor da ação judicial, professor-doutor, alegou ter a reitoria, induzida por auxiliares, ferido normas e legislação que regem o Programa de Educação Tutorial/MEC.
As universidades todas alardeiam o mérito, a competência acadêmica e a liderança política individuais como princípios. Na prática, nem sempre isto se dá. Em um Estado patrimonialista, clientelista e centralizador (Raymundo Faoro), apadrinhamentos, simpatias e restrições morais (“raciais”?) prevalecem. A universidade é ambiente de exercício da divergência, nada pessoal. O fato gerador do conflito jurídico iniciou-se, em verdade, pelas mãos de um diretor de determinada faculdade. Este, sem respaldo legal, arrogou-se promotor de processo de escolha do novo coordenador do PET naquela unidade, insinuando preferências. Em toda a Ufba estão em funcionamento seis PETs. O da Facom, por exemplo, comporta 10 alunos-bolsistas, sob tutoria de um professor. Este é remunerado adicionalmente em mais de R$ 1 mil sobre seu salário. No total, não sai por menos de R$ 5 mil mensais. R$ 60 mil ao ano em um único programa é dinheiro para dedéu, numa instituição de recursos escassos.
Além da grana, há o prestígio. No âmbito das relações institucionais, citando Foucault, conta o exercício do micro-poder que o PET representa. Ivo quis aquele lugar, sabendo que o zelo da coisa pública representa obedecer a determinações da lei. No caso, para ser tutor exige-se que o professor tenha reputadas experiências em orientação na graduação e na pós, em ensino, pesquisa, extensão, e comprometimento social. Os bolsistas devem ser capacitados a interferir na realidade circundante. Ivo possui tudo aquilo e mais. Exerceu pelo voto dos pares 4 anos de chefia, atuou em Conselhos e comissões universitárias, tem presença intelectual e publicações no exterior. Em situação normal, em vez do diretor é o Colegiado da faculdade que organiza o processo de seleção. No caso esse, coordenado personalística e bionicamente há tempos, foi conivente. Ainda assim Ivo, mais de 5 anos de casa, mesmo denunciando a irregularidade do processo resolveu concorrer, supondo que a escolha consideraria o tal mérito acadêmico. Ledo engano.
A comissão responsável, presidida por assessora do reitor depois chamada por Jaques Wagner para importante cargo na máquina estatal, optou por outra pessoa, recém-contratada (6 meses) na UFBA, com rala experiência nas áreas exigidas, conforme análise do currículo de acesso público no site do CNPq. A presidente da comissão, ao negar laconicamente o pedido de impugnação do resultado, declarou que a vencedora, aloirada e natural da Argentina, sotaque castelhano, “se saiu melhor na entrevista” à qual os candidatos se submeteram. O perdedor, negro-mestiço, fala javanês.