EDUCAÇÃO
Cotistas lutam para permanecer
Aprovados pelo sistema de cotas da Universidade Federal da Bahia enfrentam dificuldades para se manter nos cursos
Miria Lima
Samuel Barros
O sistema de cotas nas universidades públicas é uma política de compensação voltada para a inserção de camadas que, ao longo de décadas, têm ficado de fora do ensino público superior. Até então, no Brasil, mais de 50 instituições universitárias, entre estaduais e federais, já adotaram esse sistema. Mas fica a interrogação se os cotistas, em sua maioria de origem carente, terão condições financeiras para custear suas despesas básicas enquanto estudam. Na Universidade Federal da Bahia (UFBA), a realidade não é animadora. Maicon Jean Rocha Oliveira, 19 anos, oriundo de Riacho de Santana, filho de pedreiro, graças as cotas, concretizou seu sonho de cursar Engenharia Civil na UFBA. Porém, não tem como custear suas despesas em Salvador. “Eu vim pra cá, como dizem, com a cara e a coragem”, afirma. O que incentivou Maicon a sair de Riacho de Santana, a mais de 800 km de Salvador, foi saber da existência de programas de auxílio. Segundo ele, sua família, composta por cinco pessoas, conta apenas com os recursos providos pelo pai, trabalhador autônomo. O estudante solicitou uma vaga nas Residências Universitárias, mas não conseguiu vaga em nenhuma das quatro unidades, por isso não sabe se poderá continuar estudando. Segundo ele, caso tivesse conseguido, “aliviaria um pouco”, mas considera que isso não resolveria todos os seus problemas. “Eu lamento muito por ele. Ele está dentro do perfil, mas tivemos casos de pessoas em situações muito piores. Mas isso não significa que no semestre que vem ele não possa pedir novamente”, explica a assistente social, Maria das Graças Pereira Moraes, da extinta Superintendência Estudantil, hoje incorporada à Pró-Reitoria de Assistência Estudantil. Ela explica que a escolha não é fácil. “Tínhamos 90 pessoas para 30 bolsas”, completa. Atualmente, são oferecidas bolsas de auxílio, distribuídas através de vários programas: 291 bolsas residências; 145 bolsas de auxílio moradia, no valor de R$ 250,00; e mais 500 bolsas alimentação, que assistem tanto aos moradores das residências, quanto aos demais bolsistas. Deste total, foram concedidas neste semestre 47 bolsas de auxílio moradia para estudantes oriundos do interior; 30 vagas para as residências, sendo 12 para homens e 18 para mulheres. Aos alunos não beneficiados por nenhuma das bolsas foi garantida uma bolsa alimentação para almoçarem no Restaurante Universitário. Também é oferecido auxílio financeiro para compra de óculos corretivos, medicamentos, custeio de viagens para finalidades acadêmicas, isenção nas taxas da Secretaria Geral de Cursos e uma creche para filhos de alunos e funcionários. Além desses benefícios, são concedidas bolsas no Programa Permanecer e no projeto Conexão dos Saberes, os quais são destinados a estudantes em situação de vulnerabilidade econômica, sob os mesmos critérios sócio-econômicos. Como contrapartida, o estudante beneficiado se compromete e desempenhar algumas atividades, desde a monitoria em laboratórios até a organização de atividades de extensão. No entanto, os estudantes com residência em Salvador não podem concorrer para o auxílio moradia, para não desvirtuar o propósito da bolsa. Como solução aos estudantes que moram em bairros distantes e estão em situação de risco, foram reservadas 2% das vagas na Residência Universitária, além da possibilidade de se beneficiar com bolsas do Programa Permanecer. “Para garantir a permanência dos estudantes de Salvador, criamos as bolsas Permanecer. Não quer dizer que o Permanecer seja exclusivo para as pessoas de Salvador, mas é uma forma garantir a permanência”, declara Maria das Graças. Apesar de qualquer estudante poder se beneficiar através dos programas, a grande maioria dos requerentes são cotistas. Neste semestre, segundo informações da assistência social, todas as pessoas que solicitaram algum tipo de bolsa eram cotistas. Os critérios mais importantes para a seleção são: renda per capita, que deve ser inferior a um salário mínimo; número de filhos; gastos com remédios; se mora em casa própria ou alugada; se o estudante tem pai ou mãe, ou dependente em estado de saúde debilitado. Maria das Graças explica que em cada situação avaliada são analisadas todas as variantes que podem dificultar a permanência do estudante na universidade e que existe flexibilidade nos critérios para conceder os benefícios. “Cada caso é um caso. O financeiro não é fechado. Não é uma ciência exata”, pontua. Segundo o pró-reitor de Assistência Estudantil, Álamo Pimentel, através da pró-reitoria que preside, criada em dezembro de 2006, já foram aplicados quase 7 milhões de reais em ações afirmativas e em políticas assistenciais, destinadas a estudantes que se encontram em estado de vulnerabilidade social e econômica.
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